Órfãos de Pais Vivos - Jornal Povo Cristão


Órfãos de Pais Vivos
Abandonados por suas famílias, crianças e adolescentes encontram uma nova esperança nas casas-lares e abrigos cristãos.



Por Rafael Cardoso e Oziel Alves

Existem, no Brasil, mais de 80 mil crianças vivendo em abrigos e casas-lares. Deste total, somente 5 mil estão em condições de adoção e uma fração ainda menor se encaixa dentro do perfil mais procurado pelas famílias que sonham ou planejam adotar uma criança.
Segundo o Cadastro Nacional de Adoção (CNA), o Rio Grande do Sul é o segundo estado com maior número de crianças e adolescentes em condições para a adoção, ficando atras apenas do estado de São Paulo. Contudo, o perfil idealizado pelos interessados em adotar um filho está na contramão do que se encontra hoje nos abrigos e casas-lares do país. Enquanto a grande maioria dos candidatos procuram por crianças brancas, do sexo feminino e com até 3 anos de idade, menos de 4% das quase 5 mil  crianças à espera pela adoção correspondem a esse perfil.
Felizmente, aqui no sul, algumas igrejas têm aberto seus olhos para estes pequeninos, mobilizando e unindo suas forças para dar um novo destino a crianças e adolescentes em situação de risco social.
Um caso notável é o da Ong ASA-RS – Ação Social Aliança, que vem fazendo a diferença em parceria com o município de Porto Alegre e com cerca de 15 igrejas evangélicas da capital gaúcha, colecionando belíssimas e inspiradoras histórias de resgate, desenvolvimento emocional, educacional e espiritual na vida de várias crianças.
Fundada pelo Pr. Dari, que também é líder da Igreja Aliança Missionária de Porto Alegre, a ong administra 6 casas-lares e um abrigo de passagem, onde cerca de 100 crianças e adolescentes têm experimentado uma vida comunitária normal, acompanhadas por pais e mães sociais, com acesso à escola, lazer e todas as experiências naturais às crianças de sua idade.
Envolvendo 70 funcionários e mais 10 profissionais voluntários – todos evangélicos - a ASA-RS ainda oferece às crianças atendimento psicológico, aulas de reforço para os que estão em fase escolar, além do acompanhamento de assistentes sociais e outros profissionais.
Consciente de que a Igreja pode ter um papel mais incisivo e determinante nas questões que afligem a sociedade, o Pr. Dari é taxativo ao dizer que “a igreja deve desejar servir aonde ninguém quer servir”.
De fato, quando alguém se dispõe em ajudar de alguma forma a essas crianças, não existem limites ou barreiras. Inclusive, grande parte das famílias que adotam tem renda familiar de até 3 salários mínimos. O caso de ... 

Apesar de já administrar 6 casas-lares e 1 abrigo de passagem, a ASA esta abrindo mais 3 casas em parceria com outras igrejas da cidade e, conforme informou o Pr. Dari, tem buscado ainda outras igrejas interessadas em dar sua contribuição para a abertura de mais casas-lares.

Ainda que as inciativas sejam as mais nobres e atendam a uma necessidade emergencial de crianças e adolescentes sob perigo iminente, é óbvio que essas medidas são paliativas. Kênia Witeckoski, que é assistente social e trabalha no Abrigo Residencial Santa Fé, diz que “apesar das crianças serem mal tratadas pelos pais, todas, sem exceção, sonham voltar para suas famílias”.
Sendo assim, de uma forma ou de outra, o papel da Igreja é decisivo para que haja o resgate da sociedade, visando sempre que possível o fortalecimento e a evangelização  das famílias e, nos casos mais graves, servindo como pais e mães sociais, ou ainda aderindo ao trabalho voluntário em algum desses projetos que merecem todo o respeito da sociedade e honram o nome do Senhor Jesus.

As pessoas que mais ajudam são as mais pobres.

Como tudo começou
A história da ASA-RS teve seu início de uma maneira muito interessante. Em junho de 2000, ao participar da “Marcha Para Jesus de Porto Alegre”, o Pr. Dari se deparou com um pré-adolescente morador de rua. Seu filho, na época com dois anos de idade, foi o instrumento que Deus usou para desafiá-lo a romper com a indiferença, ao se aproximar e interagir com o garoto, sem o menor preconceito. A vulnerabilidade daquele  menino mobilizou o grupo da igreja que participava do evento, os quais decidiram agir frente à triste realidade social, acolhendo-o. Após esta primeira iniciativa, outros meninos e meninas em situação semelhante começaram a ser acolhidos.
Filhos do crack
Em Porto Alegre, 70% das crianças e adolescentes encaminhados a abrigos têm pais dependentes de crack. Casos como o de E., que com apenas dois meses e meio de vida é viciado em crack e sofre terrivelmente com a abstinência e tem complicações cerebrais, infelizmente são comuns. Abandonado no hospital pela mãe, usuária de crack e acolhido nos últimos dias na Casa Lar Ipanema, da Fundação de Proteção Especial do Rio Grande do Sul (FPE), seu caso só vem engrossar esta trágica estatística que não para de crescer no Estado, de acordo com levantamento do 2° Juizado da Infância e Juventude em Porto Alegre.
A diferença entre uma Casa-Lar e um Abrigo de Passagem
- A casa-lar tem a finalidade de resgatar o ambiente familiar, substituindo a família original das crianças em situação de abandono ou risco, oferecendo-lhes a oportunidade de uma convivência afetiva equilibrada e saudável.
Nelas são acolhidas crianças (zero à 18 anos) de ambos os sexos, em número não superior a dez, sob a responsabilidade de um "casal social”, encaminhados pelo Juizado da Infância e da Juventude ou pelos Conselhos Tutelares, assegurando assistência integral (alimentação, saúde, educação, lazer, esporte e atividades culturais).
Deve ser uma casa aberta e que estimule o contato e preparação para o mundo, a vida, a família, a comunidade, a cultura e o futuro independente.

- Abrigo de Passagem é uma medida provisória e excepcional onde as crianças ficam enquanto esperam por uma colocação em sua família substituta, casa-lar ou ainda, retornar às suas verdadeiras famílias. Os abrigos chegam a comportar cerca de 35 crianças.

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