Tribo Urbana do Metal
A força de um estilo que venceu a
barreira do preconceito religioso e se solidificou no cenário da música gospel
independente
Por Rafael Cardoso
Eles
estão sempre trajados de preto, usam coturnos, cintos extravagantes, brincos,
piercings, camisetas de bandas com imagens de caveiras, bodes e símbolos que
num primeiro instante nada têm a ver com o universo cristão. A música?
extremamente pesada, com vocais poderosamente graves e roucos. Quando algum
desavisado ouve este som e ou se depara com eles na rua, é quase de praxe
pensar que se trata de mais um grupo de desajustados, ou ainda pior, adoradores
do demônio. No entanto, ao se chegar mais perto e prestar atenção nas letras se
ouve algo como vou acreditar em quem acreditou em mim. Deu sua vida em meu
lugar, por que vou duvidar, então? Eu creio em Jesus!, como na música “Em quem
vou acreditar”, do Antidemon, então os preconceitos com o visual
começam a perder sua força.
O
amadurecimento artístico musical dos evangélicos do Brasil vem expandindo as
fronteiras da igreja, abrindo suas portas para expressões e manifestações que
em tempos atrás eram inconcebíveis, pois rompiam o estereótipo do sagrado. Além
disso, a evolução do seguimento é tamanha que chega ao ponto de comportar cenas
alternativas completamente independentes do mainstream gospel.
Esse
é o caso da tribo do metal cristão, que tem gerado adeptos apaixonados e
dispostos a carregar sua bandeira, contribuindo à sua maneira com a
evangelização de grupos emergentes urbanos.
Uma
das características marcantes desse público é a lealdade às bandas que admiram
e a devoção exclusiva ao seu estilo. Assim sendo, a única estratégia plausível
para o alcance dessa tribo é a formação de bandas de metal com letras de
inspiração cristã que possam vir de encontro com suas expectativas e anseios.
A
fim de marcar seu espaço na cena do metal, diversas bandas cristãs têm se
levantado de norte a sul do país (sobretudo na região norte – veja box 1).
Algumas
delas tem alcançando êxito tal, que terminam por romper a barreira entre o
secular e o cristão, fundindo-se em uma só categoria aos ouvidos de seus
admiradores.
Exemplo
clássico de quem conseguiu romper todas as barreiras com seu som é a banda
paulista de death metal e grind core, Antidemon. Com 3 CD´s lançados e mais de
trinta viagens internacionais, a banda liderada pelo Pastor Batista, líder da
Igreja alternativa Crash Church, tem realizado uma cruzada evangelística perene
por quase 20 anos, adentrando lugares outrora inimagináveis pra quem carrega a
mensagem evangélica.
Tocando
em festivais, pubs, praças e até em algumas igrejas adeptas aos movimentos
undergrounds, eles já passaram por praticamente toda a América Latina, Central
e por diversos países da Europa, incluindo Noruega, República Tcheca e
Eslováquia, onde a música do Antidemon tem excelente reconhecimento.
Mesmo
possuindo fãs espalhados por praticamente todo o planeta e colecionando
centenas de testemunhos de gente que foi alcançada por sua obra, o Antidemon é
uma banda praticamente desconhecida no mainstream gospel nacional e seu
som certamente não se enquadraria no cast de nenhuma das grandes empresas
fonográficas que hoje atuam no mercado da música cristã brasileira.
No
entanto, viver esta realidade dentro de um contexto tão fechado à mensagem
evangélica não é tarefa simples, conforme
as palavras do líder da Antidemon, pastor Batista, que ressalta: “Para uma
banda secular alcançar sucesso, é preciso ter talento, visual adequado, bom
gosto e oportunidades para fazer seu trabalho conhecido. Para uma banda Cristã
alcançar algo é preciso um pouquinho de tudo isso, mas, sobretudo ser realmente
chamada por Deus para essa missão. O público do metal é realmente fechado e
exigente, mas admira quem é autentico”.
Sobre
a luta que significa enveredar pelos meandros da contracultura, pastor Batista
comenta que no princípio, isto é, há 20 anos, 100% das Igrejas evangélicas
consideravam o Antidemon e bandas desse estilo coisa do diabo e que mesmo ante
o fato das letras serem explicitamente Cristãs e a mensagem do evangelho ser
pregada nos shows, nada fazia com que aceitassem aquele estilo como algo
divino. “Com o passar dos anos os nossos frutos foram ficando conhecidos, a
própria mídia secular passou a testemunhar sobre as vidas que estavam sendo
mudadas e transformadas, tiradas das drogas da depressão e da marginalidade.
Hoje, mesmo não entendendo o nosso chamado, algumas igrejas acabam respeitando
e até apoiando essa ferramenta necessária para o crescimento do Reino”, diz.
De
fato, os testemunhos de gente que foi de alguma forma tocada e influenciada
pelo metal cristão são muitos. Kellen Santos, que hoje é cristã e mora na
cidade de Cachoeirinha, no Rio Grande do Sul, conta que entregou sua vida a
Jesus ajoelhada em seu quarto, sozinha, após ouvir uma música da banda Metal
Nobre, que havia sido enviada por um amigo evangélico através da internet.
Outra história semelhante é a de Douglas Machado, que mora na grande Porto
Alegre e sempre foi fã de Black Sabbath. Douglas era um adolescente muito
preconceituoso com relação a igreja e testemunha que ganhou de presente de um
amigo CD´s de várias bandas de metal, entre elas a Stauros, banda de heavy
metal cristão que não está mais na ativa, mas fez história entre o final dos
anos noventa e início dos anos dois mil (confira o myspace dessa banda no box 2).
Suas letras foram mudando aos poucos seus conceitos, revelando o Evangelho que
hoje prega através de sua banda também de heavy metal, Conversão em Massa.
A
própria história da Conversão em Massa demonstra os muitos milagres que têm
acontecido nessa cena, como próprio Douglas, que é seu vocal lead, conta: Vários
amigos, que também eram músicos e também curtiam metal, foram se convertendo ao
mesmo tempo que eu. Foi então que resolvemos falar em público de Jesus,
montamos a banda Conversão em Massa em 2008 e desde então, gravamos nosso
primeiro CD e temos tocado em parques, festivais e praças, testemunhando desse
milagre que nos alcançou.
Essa
expansão da música cristã pelos caminhos do underground é parte de um movimento
que tem tudo para marcar a história e assinalar uma amplificação dos horizontes
artísticos e culturais da cristandade, levando a igreja a influenciar o mundo
que a rodeia de uma forma mais contundente e não meramente a produzir riqueza
com sua força de mercado.
Assim
como Handel, que com sua canção, levou a temática religiosa a lugares tidos
como profanos, ou como Bach, que mesclou a música das tavernas com a música
sagrada, ou ainda como os Reformadores, que plagiaram melodias seculares
conhecidas para evangelizar e popularizar suas doutrinas, surge no Brasil uma
geração de artistas cristãos que quer ir além da realização profissional. Uma
classe que quer deixar um legado artístico de qualidade e profundidade, sendo
leais aos seus ideais e estilos, sabendo que existe e sempre existirá um grupo
que apreciará e será, de alguma forma, impressionado por sua arte e mensagem,
seja ele grande ou pequeno, seja ele pop ou alternativo.
“O
estilo musical do metal possui vertentes das mais variadas, definidas pelas
influências e misturas culturais que sofre. Entre as mais conhecidas, estão o
heavy, o trash, o black, o death, o gótico, o power progressive, além das
variações influenciadas pela música e atitude punk, como o hard core, metal
core, grind core e até pelo rap, como o rap core e o new metal”.
“No
Brasil, o estado que possui a maior concentração de bandas alternativas de
metal é o Amazonas. Lá, eventos com bandas desse estilo movimentam e atraem
milhares de jovens. Concertos e festivais são realizados todos os anos dentro e
fora das igrejas.
Algumas igrejas têm investido suas forças nessa
direção, alcançando grandes resultados. Uma que se destaca é a Base Missionária
Sabaoth, que realiza constantemente festivais de metal, como o Sabaoth North Fest,
Projeto Plugadão e Intervenção Underground, que têm reunido não somente as
bandas regionais do estilo, mas também nacionais e internacionais.
Algumas bandas de Metal no norte do
país:
Ceifadores (Manaus-AM)
Shine in the Darkness (Manaus-AM)
Perpetual Faith (Belém-PA) http://www.myspace.com/perpetualfaithband
entre tantas outras”.
“A cena do Metal cristão se espalha por
todo o Brasil, em maiores e menores proporções e vale aqui citar outras bandas
do gênero que têm deixado sua marca pelo Brasil e fora dele, dentro e fora da
igreja, na atualidade, confira algumas delas:
Krig, de Belo Horizonte http://www.myspace.com/krigdeathmetal
Menorah, de Cuiabá http://www.myspace.com/menorahmetal
Metal Nobre, Brasília http://www.myspace.com/metalnobre
Stauros, Santa Catarina http://www.myspace.com/staurosband
Trino, de São Paulo, http://www.myspace.com/trinometal
Marcha das Árvores, do Rio de Janeiro,
Conversão em Massa, Canoas, http://www.myspace.com/bandaconversaoemmassa
Cara, valeu por postar essa matéria! Sou membro da Sabaoth e estavamos querendo ela pra nosso arquivo, mas a editora da revista não colaborou muito!
ResponderExcluirTemos uma revista online, a Yeshua Metalzine, acesse pelo nosso link http://www.facebook.com/yeshuametalzine
Paz!
Bom, não deu pra ler as páginas da reportagem pois elas estão em baixa qualidade, mas como o post contém o texto, está bom!
ResponderExcluirAgradeceriamos muito se voce pudesse enviar as páginas em alta qualidade... um abraço!
Valeu mesmo por citar a banda que faço parte mano, valeu mesmo, abração da banda Perpetual Faith aqui de Belém-Pa, Deus abençoe o Brasil!!!
ResponderExcluirMarcos Veríssimo! Perdoe, por favor, minha falha! Não vi tua postagem antes (faz um ano, poutz). Acho que a Revista não existe mais, infelizmente. Pelo menos nunca mais escrevi pra eles. Eu só tenho um exemplar comigo, tive que comprar e paguei caro, pode acreditar...
ResponderExcluirO trabalho com a tribo urbana do Metal da galera do Norte do País é referencial pra todos... Espero que Deus abençoe vcs em sua visão e que se consolidem cada vez mais, que gravem, que toquem, que tenham palco, que sejam ouvidos e que a mensagem voe através de seus instrumentos!! Admiro cada um de vcs que abraçam a causa.... sobretudo, o brother Batista, da Antidemon, que tive a oportunidade de conhecer e fazer um trabalho junto quando morava no Rio Grande do Sul.