Crônica de um pai de família



A filhinha chega no pai e diz: “Papai, eu quero muito comprar um livro novo pra mim poder aprender a ler melhor”, ao que o chefe da casa responde: “Querida, Papai está com muitas dívidas, contraídas por alguns erros cometidos no passado... não é culpa minha, mas o fato é que não podemos comprar esse livro agora... continue assistindo aos desenhos do SBT que é quase a mesma coisa”.
Logo depois, o filho, já adolescente pergunta: “Paizão, queria muito melhorar na prática das artes marciais e vejo que estou precisando treinar mais e com melhores instrutores; sei que tenho talento, inclusive, fui convidado pra participar de uma competição em outra cidade, você poderia me dar uma ajuda com isto?” Então, o pai pragmático e responsável que é com suas obrigações de gerente do lar diz ao guri: “Filhão, o Pai te ama muito, mas agora não é o momento de investir nisto. Estamos passando por uma crise terrível, por causa de dívidas que contraímos por alguns erros cometidos no passado... não é culpa minha, mas o fato é que não podemos, neste momento, investir em seu sonho de ser um atleta. Acredito muito em você, sei que você irá se superar... quem sabe você não faz uma rifa pra arrecadar os recursos e então participar dessa competição, já que você quer tanto isso...”
Por fim, a esposa, que acabara de realizar uma mamografia e descobriu a presença de um cisto numa das mamas, diz ao esposo, chefe da família: “Querido, preciso muito fazer um exame mais aprofundado com um médico especialista, um mastologista. Esse exame é muito importante, pois posso não ter nada grave, mas, você sabe, pode ser algo maligno, então...” O marido interrompe e no auge de seu senso de responsabilidade, declara: “você sabe que eu te amo, meu amor, eu entendo você, sou médico, mas o fato é que, cometemos alguns erros no passado... a culpa não é minha, você já sabe disso, mas não podemos contratar os serviços de um médico especialista neste momento, pois isso custa muito caro e nós precisamos, antes, saldar nossas dívidas para que possamos voltar a ter todas essas coisas”.

Paizão, o mundo não parou, os filhos não vão retardar sua vida até que você resolva seus problemas e a doença não vai esperar o momento da prosperidade pra aparecer, então, seguinte: pare de ficar inventando desculpas, de ficar arranjando responsáveis pros problemas que estão na sua mão e trate logo de cumprir com a tua incumbência. Ou então, pede pra sair e entrega a família pra quem tenha competência!!

Rafael Cardoso

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