Remédio para o drogado



Na madrugada de 1° de fevereiro de 2013 a mídia noticiou a prisão de um perigoso bandido do Rio de Janeiro na região de Muriaé, aqui em Minas Gerais. O fato interessante na notícia aparentemente corriqueira é que ele estava sumido havia dez anos.
Procurado por vários crimes envolvendo tráfico de drogas, assaltos e até assassinatos, Paulo César, como era conhecido na zona rural de Muriaé, em Minas, vivia a vida de um autêntico lavrador, prestador de serviços rurais - meio no qual se preserva a honestidade e a força de trabalho. Ele e a família que levou junto evadido do Rio moram e trabalham ali naquele humilde e pacato lugar desde que Paulo resolveu “mudar de vida”.
Detalhe curioso dessa ocorrência deve ser ressaltado: durante todo o período em que o famoso criminoso PC virou agricultor, não cometeu violência, assalto ou crime algum. Pelo contrário, foi um trabalhador exemplar.
Mal sabe ele que acaba de elaborar o mais sofisticado plano de desarticulação mental do uso de drogas. De fato, o insight tinha de vir de alguém do “meio”, que viveu e quase morreu por uso e abuso de substâncias que não deixam de forma alguma as pessoas tornarem-se agricultores.
Anônimo, perto da natureza, na intrigante (e redundante) internação compulsória a que fora submetido por conta própria, a custos sociais baixíssimos; a mudança de endereço e a vontade própria de se tornar agricultor.
PC está dando uma grande lição em todos, políticos, psicólogos, policiais e demais envolvidos neste grande e histórico problema humano: o consumo de substâncias que causam transtornos e dependência.
O PC, bandido carioca, perdeu sua identidade cultural, seus hábitos e costumes amanheceram diferentes. O ar era outro, mais puro, era mineiro. Outras estórias, “outros caminhos...”, como diz Milton.
A paranóia de gato e rato, o escondido, a contravenção apoiada na força e ignorância de grupos em busca de identidade (o grande barato da droga); o entorno ajuda a emoldurar seu universo cognitivo muito frágil. Elementos sociais fundamentais para se estabelecer o gosto e o vício de substâncias que alteram e incapacitam o ser humano para o trabalho.
O PC deixou clara a cruel psicologia escravagista, fundamentada na perda da identidade cultural dos negros. Trazidos da África, perdiam seus amigos, sua língua, sua casa, seus santos, seu nome, sua comida...
Não que todos mudem para Muriaé, em Minas. O Brasil é grande; um seringueiro no Instituto Chico Mendes, no Acre, anda oito horas por dia para monitorar 180 árvores de seringueiras. Quatro horas para “sangrar” as árvores, quatro horas para recolher o precioso látex, de excepcional qualidade (resiste esticá-lo 49 vezes sua própria massa).
Isto “cura” qualquer viciado da cracolândia!
A notícia relevante é que a polícia vai levar PC de volta ao Rio! Ao contrário do PC Farias “no tempo do Cóllera”, o PC Carioca fez, em Minas, um modelo de recuperação pessoal que seria mais uma opção nascida do próprio usuário, não de conjecturas teóricas criadas em refrigerados escritórios.
O bom jornalista, antropólogo, psicólogo, político é aquele que observa com nitidez alguns comportamentos que deixam claro o caminho percorrido por pessoas anônimas, sem cultura acadêmica, mas com um incrível instinto de sobrevivência, apontando novas possibildiades.

Não deixe o PC Carioca voltar ao Rio!


Por Instituto Cultural ABC - DG  

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