A fisiologia do pânico diante de uma tragédia


Como reagem as pessoas diante de 
um momento de pânico

Fumaça, barulho, tensão, adrenalina, corre-corre, empurra-empurra, pânico! Toda a somatória de revezes contribuindo para um ambiente hostil e desfavorável. Pra piorar, todo o tempo disponível é uma fração de segundo e o espaço apertado comprime o raciocínio, que é sobrepujado pela emoção. 

A psicóloga Patrícia Chicaroni, colaboradora de Expressão Livre, explica que em momentos de profundo stress o “instinto de vida” é ativado. Segundo a teoria freudiana, esse instinto é uma espécie de impulso ou uma força compulsora relacionada à auto-preservação e à sobrevivência.

A partir de estudos psiquiátricos, é possível determinar como o cérebro humano reage nessas horas, diante de quadros tempestuosos, talvez nunca vividos, em busca das melhores opções para que a pessoa se mantenha viva. Veja a seguir como se dá a fisiologia do pânico diante de uma tragédia:

- O sistema de alerta é ativado: Quando o cérebro observa padrões de risco de vida, uma descarga cerebral imediata é liberada. Isto se dá de forma praticamente reflexa, mesmo antes de termos consciência do problema. Uma liberação extra de adrenalina inunda a corrente sanguínea, levando o corpo à alterações orgânicas, tais como, pele pálida, olhos arregalados, pupila dilatada, taquicardia e aumento da pressão arterial. O sangue é direcionado aos músculos e ao cérebro (sai da pele e dos intestinos). 
Nesta hora, perde-se a percepção visual de detalhes e passamos a enxergar melhor o todo, o sangue circula mais rápido e dá conta de nutrir toda a musculatura necessária para escapar da situação com vida.

- Redução da percepção cerebral de algumas sensações: Nessa hora sentimos menos dor, podendo até mesmo quebrar um osso, pisar em cacos de vidros, esmagar um dedo e não sentir praticamente nada; também não sentimos vontade de ir ao banheiro, fome ou sede. Tudo isso fica paralisado, em segundo plano e só será retomado em momento oportuno.

- Redução das escolhas racionais: O cérebro toma decisões mais emocionais e intuitivas e primitivas, e o racional fica de certa forma comprometido. Há certo conflito entre os profissionais da área, alguns acreditam que ocorre em momentos como esse o chamado “efeito manada”, ou seja, o temor antecipatório do sofrimento levam a atitudes que a pessoa nunca cometeria em situações ideais, levando-as a pular de uma altura absurda para escapar de um mal menor, correr para o lado errado, atropelar e fazer mal às outras pessoas em prol da própria sobrevivência etc. 
É comum as pessoas de fora da cena questionar o porquê de não se ter feito isso ou aquilo?
No entanto, há quem defenda que a pessoa em perigo, sob efeitos de estresse e medo, sentindo uma pressão interna para lidar com a situação de ameaça, libera um conjunto de reações emocionais positivas, mobilizando-a a se proteger e buscar uma saída para a situação.

- Sistemas de manutenção da vida são ativados: Ficamos mais fortes, mais rápidos, mais firmes, decididos e muito mais corajosos. O foco extremo é ficar vivo. Para o cérebro, o bem maior é a existência do indivíduo. Com isso, falta trabalho em equipe e, por vezes, deixamos de perceber o outro, complicando algumas situações. Ao mesmo tempo, não faltam histórias de superação e feitos bem acima do esperado em prol da sobrevivência.
A investigação científica das tragédias demonstra, no entanto, que em muitos casos o comportamento predominante é de cooperação e solidariedade, sendo comum as pessoas se ajudarem, criando um forte sentimento de identidade coletiva.
De modo geral, situações trágicas mostram que o ser humano tem uma forte tendência de cooperação e cuidado recíproco, ensinando como nossas emoções estão programadas para facilitar comportamentos coerentes para lidar com perigos reais.

Fontes: “O Comportamento Humano nas Tragédias e Catástrofes”, por Artur Scarpato; “Mitos e verdades”, Leandro Telles.

Rafael Cardoso

Comentários