Beatlemaníacos em Paraíso: Eles existem e estão entre nós!


“Ô trem bão”, exclamou sir Paul McCartney diante da multidão formada por mais de 50 mil fãs mineiros na capital Belo Horizonte, no dia 4 do mês passado. A frase foi uma resposta à campanha "Paul, vem falar Uai!", que ‘bombou’ nas redes Facebook e Twitter, semanas antes do show que estremeceu a cidade e marcou profundamente a vida de milhares de beatlemaníacos mineiros.

De fato, é difícil encontrar alguém que seja apaixonado pelo rock e que não curta de alguma forma os Beatles, até porque, eles são certamente a banda mais influente e determinante para a consolidação desse estilo musical na arte popular do ocidente.

Até mesmo gente que jura não gostar, se pega às vezes, cantarolando alguns dos maiores hits da Banda, sobretudo de sua fase Iê Iê Iê. Afinal, quem não conhece ou nunca tentou cantar no mais enrolado dos embromations “Well, shake it up baby noooooow, twist and Shoooooout”??? Pois é!

A realidade é que os ‘besouros’ que picaram e espalharam seu veneno desde o início dos anos 60, vêm se mantendo capazes de influenciar pessoas em todas as gerações posteriores até os dias de hoje. 

Isto é o que se chama de beatlemania! Uma onda forte e perene que já dura mais de 50 anos e, ainda que a banda tenha escrito uma história de apenas dez, sua força vital permanece solidificada pela surpresa da redescoberta que cada geração faz ao abrir seus ouvido e notar a genialidade daqueles quatro rapazes ingleses que revolucionaram e ainda revolucionam o mundo.

Em todo o Planeta, brotam fãs e apaixonados pelos Beatles e aqui mesmo em São Sebastião do Paraíso essa verdade não é diferente. Dezenas, talvez centenas de pessoas de todas as idades, de forma velada ou revelada, cultivam sua admiração pela Banda, seja colecionando discos de vinil, CD´s, exibindo camisetas ou indo aos shows solo dos últimos integrantes que restaram.

Em Paraíso não há um fã clube organizado, mas sabe-se que os fãs estão espalhados por aí e alguns deles acabam sempre se encontrando nos shows ou pra um bate papo sobre seu assunto preferido. Entre esses, um cidadão paraisense digno representante da classe beatlemaníaca e talvez o maior colecionador de itens relacionados a banda na cidade é Naelson Pinto.

Fanático, ele possui um pouco de tudo o que está relacionado aos Beatles e, sempre que pode, comparece aos shows dos ex Beatles, quando vêm ao Brasil. “O primeiro show do Paul que eu fui foi no Maracanã, em 1990”, ele conta, relembrando que naquela ocasião um público de 185 mil pessoas se reuniu para ver aquele que seria o primeiro show de um ‘beatle’ no Brasil. “Um público Record que nunca mais será repetido naquele mesmo local”, ele frisa.

Naelson, que hoje está com 50 anos, relembra que sua paixão foi despertada em meados dos anos 70, quando a banda já nem mais existia. “Meu irmão foi quem me apresentou os Beatles. Chamou-me ao quarto, na casa de um amigo nosso e colocou o “White Álbum” (Álbum Branco) pra tocar e a partir dali procurei ouvir outras músicas da banda e a comprar compactos com o dinheiro que sobrava do cinema”, recorda.

Num tempo em que não havia internet, muito menos Mp3, tudo tinha que ser garimpado com muito esforço e Naelson ia até a Papelaria dos Estudantes, na época a única loja de discos da cidade, e encomendava os discos e compactos que não vinham normalmente a Paraíso.

Algum tempo depois, já nos anos 80, ele começou a trabalhar na Paraíso FM, onde produzia programas aos sábados e era responsável pela compra de discos, tendo a grata oportunidade de ir a São Paulo algumas vezes por ano a fim de comprar discos para a Rádio. Passando a freqüentar as melhores lojas do ramo no Brasil, como a Galeria do Rock, Baratos Afins, Sebo de Elite, Som só Som, ele tinha a oportunidade de ter acesso a tudo o que se relacionava aos Beatles, além de diversas outras bandas.

Naelson conta que assistiu a dois shows Paul McCartney no Brasil e que neste ano irá ao show Ringo Star, em São Paulo, previsto para o fim do mês de outubro.

Do lado inverso da ‘beatlemania’ e exemplificando muito bem o fenômeno do alcance ‘intergeracional’ da banda, a estudante Bruna Pereira Caetano, que tem apenas 16 anos, teve seu primeiro contato com o rock da antológica banda há bem pouco tempo e, de uma forma meio automática, virou fã.

Bruna explica que a primeira vez que ouviu os Beatles foi através de sua irmã mais velha: “ela ficava ouvindo ‘Hey Jude’ insistentemente e, por essa razão, antipatizei com a banda”, confessa. “Generalizei a raiva e me fechei para o som dos Beatles por um tempo, mas quando minhas amigas finalmente me fizeram ouvir de verdade, me envolver nas batidas e entender as letras, eu me apaixonei!”, declara Bruna, revelando seu amor.

A jovem estudante, que também foi ao último show de Paul McCartney em BH, diz que chegou a implorar para sua mãe deixá-la ir. Segundo suas próprias palavras, o show foi, “a experiência mais incrível” de sua vida. E “poder fazer isso ao lado de minhas melhores amigas fez ser mais perfeito ainda”, completou.

Perguntada sobre qual a canção preferida, Bruna admite ser impossível definir. “Cada música tem um significado, faz a gente lembrar momentos, lembrar de pessoas”, disse. “’A hard day's night’, por exemplo, me lembra uma noite em que eu e uma amiga passamos por um monte de dificuldades pra ver um show cover dos Beatles e ‘All my loving’ lembra uma ocasião que cantei com algumas amigas, no palco, na minha aula de teatro”. “Cada música tem sua história dentro da minha vida e é impossível decidir a melhor”, ela completou, salientando que os Beatles representam a trilha sonora de sua vida.

Permeada de uma história cheia de mitos, a banda Beatles possui uma aura poderosa que envolve tenazmente a alma de seus fãs. Ou seja, fã de Beatles é fã de verdade. No caso de Naelson, que conhece cada fase, cada situação e detalhe sobre a vida de cada um dos componentes da banda, quando perguntado sobre a razão pela qual a banda acabou, ele diz que “muitos acreditam que Yoko Ono, namorada de Lennon, teria sido o pivô dessa separação, mas o próprio Paul, em entrevista, revelou que as razões foram comerciais e de desgaste no relacionamento entre os quatro”, opina com a propriedade de quem conhece.

Já que sabe tanto, responda, Naelson: 

- Por que não nos responde também a razão de um sucesso tão perene quanto o dos Beatles? 

Ele não se faz de rogado e declara: 

- “O fato de a banda ser formada por quatro músicos extraordinários, sendo todos compositores de talento incomum e que, além disso, viveu três fases bem distintas entre si, além de muito criativas”.

Palavra de quem entende como poucos do assunto!

Rafael Cardoso

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