Catira em Paraíso


Tradição viva em alguns pontos do interior do Brasil, 
o catira já teve forte expressão em Paraíso

A catira ou cateretê é uma dança genuinamente brasileira. Sua origem aponta para a mistura das culturas africana, espanhola, indígena e portuguesa que se cruzaram e se fundiram naturalmente no Brasil. Alguns historiadores entendem que ela se tornou célebre como estratégia dos jesuítas para melhor entrosamento com os índios, em sua catequização.

Conhecida e difundida em diversas regiões do Brasil, que abrangem desde o interior de São Paulo, às zonas litorâneas de Angra dos Reis até a baía de Paranaguá, localidades pastoris de Barretos, interior de Minas, Norte do Paraná e Goiás. 

Alguns detalhes na forma de expressão dos catireiros ganhavam variações de acordo com a região. Havia lugares em que ela era dançada com tamancos de madeira, outros com grandes esporas chilenas para retinir melhor o som e também havia os que dançavam com os pés descalços. Em todos os casos, porém, sempre "pisando as cordas da viola" - termo que designa sincronia entre o toque do instrumento com o bater de pés e mãos.

A religiosidade é um ponto forte da catira - assim como a maioria dos grupos de cultura popular brasileira - fazendo reverências aos santos protetores das folias. Dentre estas festas destacam-se as de São Sebastião (padroeiro de Paraíso), do Divino Espírito Santo e a de Santos Reis.

O paraisense Ico Pedroso, já falecido, foi certamente o mais entusiasmado catireiro de nossa história. Sua importância na divulgação e no cultivo dessa antiga tradição se tornou célebre através da canção “O Catira do Pedroso”, de Pedro Bento e Zé da Estrada, dupla veterana da música sertaneja nacional e de sucesso perene, que remonta ao fim dos anos 50.
Ico Pedroso

O maior catireiro de Paraíso veio a falecer no dia 16 de janeiro 1980, aos 63 anos de idade. Açougueiro de profissão, ele era chefe do grupo de catireiros de Paraíso e o maior divulgador dessa tradição por aqui. Desde sua morte, há 33 anos, nunca mais se dançou a catira em São Sebastião do Paraíso.
Quem estaria disposto a ressuscitar essa tradição tão emblemática do interior do Brasil por aqui?


“O Catira do Pedroso”, 
de Pedro Bento e Zé da Estrada:



A dupla Pedro Bento e Zé da Estrada, conhecida como os “Amantes da Rancheira”, ajudou a consolidar a imagem do caipira das roças paulistas em todo o Brasil. Inovadores e revolucionários no estilo de fazer sua música, eles importaram as rancheiras que faziam grande sucesso na América Central. Adotaram, inclusive, roupas e acessórios típicos e deixaram sua marca usando sombreiros mexicanos enormes nas apresentações.

“Eu recebi um convite, veio de São Sebastião.
Paraíso das meninas , lugar de mineiro bom
Berço de gente famosa!
As mocinhas são as rosas vindo de um simples botão.

O senhor Ico Pedroso e seus violeiros são bons demais
No catira que eles entram no assoalho ficam sinais
Quatro pares bem ensaiados
É poeira para todos os lados recortando a viola vai.

Eu sou passarinho, eu sou assanhaço
Eu quero fazer meu ninho, se você deixar eu faço
Encostado no seu peito
Na voltinha dos seus braços se você deixar eu faço.

Chico Bento, e Zé Ricardo, Joaquim Bidi e o João Messias
Tião Moreira e José Soares, o Ico e Jeremais
Sapateiam a noite inteira
Só dispensam a brincadeira depois que amanhece o dia.

Eu também que sou violeiro, mas fui lá só para assistir
Confesso que me toda a vida coisa igual eu nunca vi
Eu trouxe muita saudade
Daquela bela cidade e o povo que conheci”.

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