José de Souza Soares Um dos mais notáveis intelectuais paraisenses


Ele foi o 16º prefeito de Paraíso, diretor de Jornal, o “Libertas”, também foi deputado estadual e, sem sombra de dúvidas, um dos mais ilustres intelectuais de São Sebastião do Paraíso.

José de Souza Soares, advogado brilhante e escritor de invejável competência formou-se em direito na tradicional Faculdade de Direito de São Paulo. Lá, foi aluno de destaque, tendo sido inclusive orador da Liga Acadêmica, a qual o nomeou também seu delegado no Congresso de Estudantes de Montevidéu.

Como advogado, estabeleceu-se na cidade de São Sebastião do Paraíso, onde protagonizou batalhas jurídicas memoráveis. Em uma de suas prédicas, o Doutor Soares bradou: “O juiz não tem que nos impor o seu direito, mas tem que executar o nosso direito, o direito que a sociedade pede e espera”.*

Vários artigos jurídicos, recortes de jornais nos quais sua opinião era sempre requisitada e exemplares de alguns de seus livros podem ser encontrados na Biblioteca Municipal Alencar de Assis ou nos arquivos pessoais de cidadãos paraisenses que tem por costume zelar pela história da cidade. 

Dentre esses cidadãos, está Sebastião Pimenta, dentista e paraisense apaixonado pela história do município. Auto intitulado “colecionador”, nome que compõe a designação de seu recente livro “O Colecionador e suas Crônicas de Paraíso”, Sebastião tem fortes recordações de José de Souza Soares. “Lembro-me que ele morava na casa de esquina da Travessa Soares Neto com a Pinto Ribeiro - onde hoje funciona um estacionamento – e eu costumava jogar bola por ali, até que um dia o senhor José Soares esbravejou comigo e eu fiquei com muito medo dele”, relembra o colecionador em seus tempos de criança. 

Obra do acaso, tempos depois, Sebastião Pimenta acabou se encontrando novamente com o Dr. Soares, dessa vez no Ginásio Paraisense, onde foi estudar e o advogado veio a ser foi seu diretor.

Outro paraisense que narra uma história interessante sobre o advogado é Alexandre de Souza, proprietário da centenária Sorveteria Spósito. Ele conta que seu avô, João Spósito, foi auxiliado pelo advogado em algumas oportunidades, mas uma delas é, no mínimo, curiosa. Possuidor de um belíssimo rádio que captava sinais de ondas curtas e com o qual ouvia rádios da Itália – como forma de aplacar um pouco das saudades da terra natal – em tempos de 2º Guerra, a polícia paraisense confiscou o equipamento sob alegação de que o mesmo seria utilizado para transmitir informações ao exército da Itália, aliada de Hitler.

Como a acusação não tinha o menor cabimento e, na verdade, o que queriam os policiais era ter em sua delegacia um rádio daqueles, na época, muito caro, “o Dr. Soares entrou em ação e fez valer a lei, trazendo de volta o rádio ao meu avô, com a seguinte ressalva: ‘tinha que ser ligado bem alto todos os dias, às 19 horas, para que todos na praça o vissem escutando a Voz do Brasil’”, declara o seu Alexandre.

Contudo, o maior legado deixado por José de Souza Soares são os diversos títulos literários que escreveu. Além do bastante conhecido livro histórico “São Sebastião do Paraíso e sua história”, considerado o primeiro e mais importante volume sobre a história de Paraíso, uma série enorme de discursos, artigos avulsos, teses e debates judiciários, sociológicos e políticos foi escrita pelo Dr. Soares. 

Entre os principais livros que escreveu, estão “O novo regime”, A revolução brasileira”, “Economia e finanças”, “Minas Gerais”, Militarismo na República”, “Código do processo civil”, “Inventário e partilha”, “Dos testamentos”, “Parlamentarismo e revisionismo”, “O Bicentenário do cafeeiro no Brasil“, “O Café do sul de minas”, “Os limites entre os estados de São Paulo e Minas”, e outros incontáveis (e perdidos) títulos. 

Todos estes, olvidados pela grande maioria dos paraisenses, são parte integrante da vasta obra deste ‘escribomaníaco’ cidadão de Paraíso que, em seu tempo, figurava nas mais elevadas rodas intelectuais de Minas Gerais. 

José de Souza Soares é, sem dúvida, um paraisense de relevância cultural impressionante!

Rafael Cardoso 

* Extraído do livreto “No Pretório da Justiça”, José de Souza Soares 

Comentários