Luizão do Basquete


Ícone do esporte paraisense confessa estar de luto:
 “perdi um filho”.

Franca, aqui pertinho, no interior de São Paulo, conhecida como a Capital Nacional do Sapato Masculino, é também um dos principais pólos do basquete brasileiro. É da lá um dos maiores nomes da história desse esporte no Brasil, Hélio Rubens, o qual, além de ser o maior vencedor do campeonato brasileiro, esteve por diversas vezes no pódio de competições sul-americanas, pan-americanas e mundiais, como jogador e também como técnico da seleção.

Foi esse mesmo monstro sagrado do esporte americano da ‘Bola ao Cesto’ quem viu em Luis Roberto de Oliveira, na época goleiro do time da Francana, o potencial para se tornar um jogador de basquete. “Como essa altura e essa impulsão que você tem, pode ser um excelente jogador”, disse o então armador do Franca Basquetebol Clube.

Foi assim que Luizão, no auge de sua forma física e do alto de seus quase dois metros de altura, enveredou pelo esporte que crescia vertiginosamente no Brasil, naquele tempo. Sobre o mestre Hélio, ele não poupa elogios e gratidão, dizendo que foi e ainda é um grande amigo, deu conselhos de um verdadeiro pai e lhe ofereceu fundamental apoio para consolidar sua carreira no esporte.

O ano era 1974 e Luizão começava a “trombar” com os melhores jogadores do basquete nacional, nas quadras de todo o Brasil. Naquele tempo, defendeu grandes times da cena brasileira e enfrentou os maiores atletas daquele momento, que eram a base da seleção, nas quadras do estado de São Paulo. 

“Já joguei contra e a favor do Oscar Schmidt”, ele recorda. “Na realidade, muitos dos jogadores que enfrentei tinham 2,10 m, 2,15 m e pesavam 120 kg. Diante deles eu era pequeno”, ele diz, revelando a razão de tantas lesões que o obrigaram a encerrar a carreira como jogador profissional em 1985, quando tinha por volta de 34 anos. No ano seguinte, ele chega a São Sebastião do Paraíso, a convite de Chiquito Tubaldini e de Luis Carlos de Paula, o Charrete, que na época era o Diretor de Esportas na cidade. 

Aqui, Luizão ainda viria jogar por mais dez anos e mesmo sofrendo com muitas lesões, o ritmo do esporte de nível amador era possível de ser encarado. Aliás, além de compor a equipe de basquete de Paraíso e ser seu treinador, ele também fez parte de uma das maiores equipes de handebol que esta cidade já teve, defendendo o município em diversas competições mineiras.

O sexto de uma família de onze irmãos, Luizão conta com satisfação o modo familiar com que se envolveu na vida de cada aluno que passou por suas mãos. “Muitos deles hoje são pais de família, alguns se tornaram médicos, engenheiros, advogados. Na época, eram meninos, estavam em formação e hoje guardam um pouco de mim em suas vidas”, se orgulha. 

Em 2011, Luizão recebeu uma merecida e emocionante homenagem de alguns dos atletas que passaram por sua vida, os quais iniciaram na prática do basquete ainda meninos e adolescentes e que, hoje, como homens, pais de família e profissionais resolvidos, vieram retribuir tudo o que receberam de ensinamentos para a vida. 

Completando neste mês de abril 61 anos de idade e recentemente aposentado pela Prefeitura de Paraíso, Luizão coleciona 27 anos de serviços prestados ao esporte paraisense e, através do basquete e da visão de alguns cidadãos daqui, ajudou a construir uma história, deixando um legado imensurável na formação pessoal de um sem número de crianças que estiveram sob sua tutela nas quadras de basquete da cidade. No entanto, diante da pergunta mais clichê que um jornalista poderia fazer, a resposta surpreende e propõe uma reflexão a todos os paraisenses que acreditam no esporte: 

- “Luizão, valeu a pena?”

– “Por 25 anos, sim, valeu, mas pelo que fizeram com o basquete da cidade nos últimos anos, não. Estou de luto porque mataram o basquete paraisense”, ele desabafa, “perdi um filho”, frisa.

Segundo sua interpretação, montaram uma equipe ‘profissional’, trouxeram jogadores de fora e atraíram patrocínios, mas a direção esportiva da cidade simplesmente abandonou a base. 

Por vários anos, as equipes de basquete formadas por jovens da cidade, traziam medalhas e conquistas para a cidade. Hoje, tudo acabou e o que parecia ser uma grande evolução para o esporte paraisense, tornou-se um grande pesadelo. 

Segundo Luizão, a situação se resume no que ele chama de a “praga do Corinthians” – termo criado por ele próprio e que faz alusão à parceria entre a empresa MSI, do empresário iraniano Kia Joorabchian e o Timão, que prometeu grandes realizações e resultou apenas numa triste segunda divisão ao time paulista. 

A esperança que fica dessa história rica e ao mesmo tempo dramática é a de que, assim como o próprio time do Corinthians, que ressurgiu com força de suas próprias cinzas e alcançou o topo após o vale sombrio da segunda divisão do futebol nacional, Paraíso ressurja com uma obra tão sólida e eficaz quanto a que Luizão construiu e que após esse tempo de morte, haja a ressurreição do glorioso esporte que já trouxe tantas alegrias à cidade. 

Rafael Cardoso

Comentários

  1. Rafael bom dia,
    Aqui é Afonso Fábio de Bauru SP e precisava de um contato do Luisão e talvez de alguém ligado ao Basket e ao Luisão.
    Estou a um ano coordenando um projeto de entrevistas com colaboradores que fizeram em algum momento parte da história do Basket da Luso de Bauru.
    E o Luisão e um deles e gostaria de convida-lo para uma Live futura onde ele terá a companhia de grandes amigos da época.
    Desde já agradeço.
    Afonso Fabio
    Bauru-SP
    14991192013 (watt)
    Alvfabio@terra.com.br

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