Os cinemas de São Sebastião do Paraíso


A chama da Sétima Arte acesa 
por mais de cem anos na cidade.

Com uma gama enorme de abrangências, o Cinema tem servido tanto para fins de entretenimento quanto para a difusão de idéias, emoções e expressões. Seu alcance é praticamente ilimitado, conciliando temas gerais, científicos, filosóficos, históricos, cotidianos, poéticos ou culturais, registrando, por meio da imagem em movimento, todos os tipos de assunto, formando muito mais do que um objeto estético, mas uma linguagem de formação.
Em tempos de mega produções, embaladas pelo espírito hollywoodiano, temos nos habituado aos espetáculos forjados em altas tecnologias, tanto na produção, quanto na reprodução dos filmes. Elaborados com altíssima qualidade em áudio, vídeo e reproduzindo realidades fantásticas, sua exibição se dá em salas cada vez mais confortáveis, equipadas com aparatos de última geração tecnológica.
No entanto, a história do cinema já foi movida por muito mais romantismo do que se vê hoje em dia.
Já conta mais de cem anos desde a data em que passou a funcionar o primeiro cinema em São Sebastião do Paraíso. Era o início do século XX, no longínquo ano de 1906, quando um simples barracão passou a abrigar a primeira sala pública voltada para a sétima arte por aqui*. 
A história do cinema em Paraíso acompanhou quase que simultaneamente a história do cinema no Brasil. Faziam apenas dez anos que os primeiros aparelhos de projeção cinematográfica haviam chegado ao Rio de Janeiro e foi somente com o advento da energia elétrica industrial daquela cidade, que o comércio cinematográfico começou a se desenvolver e então se espalhar pelo restante do país.
Por aqui, inicialmente, o projetor funcionava com a energia produzida a partir de um dínamo. Conta-se que os ruídos produzidos pelo projetor eram tão altos que durante os tempos do “cinema mudo”, isto é, até 1929, uma orquestra ou piano posicionado próximo à tela tocavam durante as exibições para abafar o desagradável barulho*.
Cine Biju, Cine Paris, Cine São Carlos, Recreio e São Sebastião em seus respectivos momentos de atuação fizeram sucesso estrondoso na cidade e, em suas sessões, era comum ver a formação de filas enormes de paraisenses ávidos pelos filmes.
Cinéfilo apaixonado, Mariano Bícego teve seu encontro com a Sétima Arte no final dos anos 60, quando seu pai o levava para as sessões de Bang Bang Italiano, no Cine São Sebastião. Ele também recorda que, aos domingos, assistia aos filmes épicos, dentre os quais cita Os Dez Mandamentos e Ben Hur e explica que “naquela época, as pessoas não podiam ver filmes em casa, somente no cinema, o que garantia o sucesso do empreendimento”. 
Acompanhando de forma assídua a história e o desenvolvimento do cinema mundial e nacional, Bícego, que atualmente é Secretário de Esporte, Lazer e Turismo nesta cidade, entende que o declínio dos cinemas se deu inicialmente nos anos 70, quando começou a transmissão da televisão em cores no Brasil. Além disso, as práticas comerciais predatórias praticadas pelas distribuidoras de filmes, tornavam a situação cada vez mais difícil para os administradores de cinemas. Para se ter uma idéia, “em 1974, haviam 3.700 salas de cinema em todo território nacional”, disse o Secretário, que também é professor de história. “No final da década de 80, eram apenas 800 ao todo. Hoje, no estado de Minas Gerais, existem 70 cinemas, apenas”, conclui. 
O Cine São Sebastião, uma sala belíssima cujo interior era ornado com obras de artes, encerrou suas atividades em meados dos anos 80. Após seu fechamento, Paraíso amargou um longo período de quase duas décadas sem uma sala de cinema, até que em outubro de 2003, o Cine 14 Bis iniciava suas atividades bem no centro da cidade. 
Com o diferencial de manter um projeto cultural que permite a entrada gratuita para estudantes da rede pública, em sessões direcionadas ao diálogo entre alunos, orientadores e professores, o Cine 14 Bis vem mantendo acesa a chama da Arte do Cinema na cidade, com responsabilidade social e qualidade.

* Trechos adaptados do livro “Curiosidade de Paraíso”, de Luiz Ferreira Calafiori.

Rafael Cardoso

Comentários