52 anos eternizando momentos através da fotografia em São Sebastião do Paraíso
A figura maior do revolucionário movimento “pop art”, Andy Warhol, disse que “a melhor coisa sobre uma fotografia, é que ela não muda mesmo quando as pessoas mudam”. De fato, quando se admira uma fotografia, traz-se instantaneamente de volta o passado ao presente, o que significa a eternização daquilo que é absolutamente transitório, ou seja, o simples momento.
Hoje, são bilhões os fotógrafos espalhados pelo planeta, pois cada pessoa equipada com um simples celular é capaz de capturar situações diversas do cotidiano, as quais estão aptas a emocionar, fazendo rir e chorar, trazendo à tona recordações de tempos passados.
No entanto, a fotografia - termo que vem da união de duas palavras que significam algo como escrever ou desenhar com luz – possui uma longa história que já soma alguns séculos e, até bem pouco tempo atrás, antes do advento da foto digital, sua magia só era possível através de processos químicos complexos, manipulados por alguns poucos profissionais, sendo os únicos capazes de “eternizar momentos”.
Hoje, ninguém mais é obrigado a saber o que são o metol, o revelador, o fixador, o sulfeto, o carbonato, o brometo de potássio, ou ainda, os sais de prata e o sulfureto de sódio, pois assim como se acende uma luz numa sala, com apenas um clique se registra uma foto, cujo equipamento está disponível a qualquer pessoa.
O ícone do mês, escolhido pela Expressão Livre, é alguém que realmente serve de emblema a toda classe dos fotógrafos profissionais de São Sebastião do Paraíso. Valdemar Francisco de Paula ou apenas Valdemar concorda que “a fotografia é a eternização do momento” e ainda completa dizendo que ela também é “a valorização da vida”, hoje, “em alta definição”.
Um dos grandes prodígios da arte fotográfica em nossa cidade, ele teve seu interesse despertado quando era ainda um pequeno garoto quando se pegava admirado com as capas de discos de grandes artistas do passado.
“A beleza de seus rostos e as artes gráficas me impressionavam demais e buscando conhecer um pouco sobre aquelas obras, descobri um fotógrafo do Rio de Janeiro, chamado Mafra” (um dos principais artistas gráficos daquela época, no Brasil e que contribuiu para a criação da identidade visual de vários artistas).
A história de Valdemar na foto profissional é extensa e já soma mais de meio século de trabalho. Na carreira, relembra gente com quem trabalhou e que lhe serviram de mestres no universo da foto, entre eles, Alceu Gonçalves Medeiros, do Hollywood Foto Lux, com quem trabalhou de 64 até 70, além do Pimenta, Guidorizzi e também do Clementoni, o “Foicinha”.
“No ano de 1973, um de meus professores na fotografia, Antonio Vander Pereira fez um trabalho com uma empresa do Rio de Janeiro e eu pude conhecer um pouco mais daquela técnica que via nas capas de discos, anos antes”, recorda.
Mas nem só de foto vive o artista! Aliás, Valdemar é uma pessoa multifacetada. Além de desenhista (arte que aplicou durante décadas no retoque das fotos) ele é um verdadeiro apaixonado pela música. Compositor de diversos sambas enredos, ele é também um dos carnavalescos mais antigos da cidade e, além de ser compositor de vários temas, construiu com as próprias mãos diversos carros alegóricos e fantasias para várias escolas de samba paraisenses. Sua importância dentro do carnaval de Paraíso é tão grande que nesta edição de 2013 a Escola de Samba Mocidade Alegre escolheu como tema a vida do fotógrafo. “Eles decidiram falar sobre mim e eu fiquei muito feliz por ser lembrado”, disse Valdemar que também foi convidado a compor o samba enredo da escola.
Outra grande paixão em sua vida é o teatro, mas ele reclama – com razão – da falta que essa arte faz na cidade, que tem pouca adesão e representação por aqui.
Questionado sobre que os novos caminhos produzidos pela linguagem digital no mundo da fotografia, ele se diz perfeitamente adequado às inovações, dominando com tranqüilidade os métodos mais atualizados da modernidade gráfica, o que inclui a utilização do Photoshop. “Antes eu fazia tudo a mão, hoje, faço no computador”, ele diz, demonstrando que as mudanças estão nos métodos e nas ferramentas, mas que os resultados obtidos são o que as pessoas sempre desejaram: “ficar bonitas!”
“Na foto profissional, o comum, o natural e o original não têm graça, pois as pessoas querem tirar uma foto e ficar parecidas com os artistas”, ele observa.
Com grande autoridade no assunto, ele filosofa um pouco sobre toda essa evolução, entendendo que tudo melhorou com a foto digital, a qualidade, a rapidez... “Enfim, o digital veio para valorizar mais a vida, pois as pessoas estão fotografando mais e registrando mais seus momentos. Até as crianças estão fotografando e a foto torna as pessoas mais observadoras, mais artísticas”.
Sobre o futuro, Valdemar adianta que tem a idéia de fazer um documentário sobre o processo antigo de revelação das fotos, explicando passo a passo, em vídeo, aquilo que passou anos fazendo. “A idéia veio a partir de uma entrevista que concedi à EPTV, há alguns anos, para falar sobre a transição do analógico para o digital”.
Em uma estimativa pessoal, o fotógrafo acredita que antes do advento da foto digital, havia pelo menos uma fotografia de sua autoria em cada lar paraisense, o que não é de se duvidar em se tratando de mais de cinqüenta anos de atuação profissional, bem ali no coração da cidade.
Sobre as antológicas fotografias nas quais deixava as pessoas com os olhos claros, numa atmosfera um tanto cinematográfica, ele confidencia que a inspiração veio justamente dos antigos filmes hollywoodianos. “No antigo Cine Recreio, eu admirava as fotos onde os atores americanos tinham aquele brilho em seus rostos, então, passei a reproduzir aquele ambiente em meu estúdio e inúmeras pessoas me procuraram para obter aquele resultado”, disse Valdemar, revelando um pouco do segredo de uma ideia que conquistou muitos paraisenses, marcando uma época e um momento na vida de incontáveis pessoas.
Rafael Cardoso
Comentários
Postar um comentário