Vinte Centavos


Uma gota d água que transbordou a 
paciência do povo brasileiro. 


Há vinte e três anos, o cantor e compositor Humberto Gessinger, líder da banda de rock Engenheiros do Hawaii, lançava nas rádios nacionais um de seus discos de maior sucesso, “O papa é pop”. Recheado de canções que ganharam a mente de muitos jovens daquela geração, o LP trazia músicas antológicas como a regravação “Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones”, versão dos Incríveis da canção original em italiano, de Gianni Morandi, dos anos 60.

Além dessa - uma clara mensagem de repulsa dos jovens que eram convocados a perder suas vidas nas guerras – outras faixas daquele mesmo disco traziam consigo um conteúdo bastante politizado, cheio de críticas e reflexões em forma de poesia.

Entre elas, “Exército de um homem só”, música baseada na louca façanha de Mathias Rust, um jovem alemão que, em 1987, com apenas 19 anos, pilotou um pequeno monomotor de Helsínquia, na Finlândia e atravessou o até então impenetrável cerco aéreo da União Soviética, pousando em plena Praça Vermelha, na cidade de Moscou.

Em seu vôo audacioso, o jovem pacifista demonstrava o protesto latente no coração de toda sua geração, que ansiava por ventos de mudanças num cenário mundial marcado por muitas incertezas. Eram tempos de Guerra Fria e todas as negociações entre o governo americano e o soviético sobre a questão do desarmamento nuclear pareciam estar longe de chegar a um consenso.

Aquela canção, que iniciava o disco, dizia numa de suas estrofes: “nos interessa o que não foi impresso e continua sendo escrito à mão; escrito à luz de velas quase na escuridão, longe da multidão”. Aliando a frase de Gessinger à história de Rust é possível perceber o profundo universo de idéias e sentimentos que povoam o interior de um jovem de revolucionário e que estimulam a verve de um jovem compositor.

Sempre existiu tal inquietação pulsando no coração do revolucionário sem nome e sem face e, pontualmente, essas inquietações brotaram em letras e melodias de compositores e poetas da nação. No entanto, como diz a canção acima, esses sentimentos sempre foram “escritos à mão, à luz de velas, longe da multidão” e quase sempre culminavam em alguma atitude isolada de um ou poucos “desordeiros” que ocasionalmente golpeavam o senso de ordem social.

Sempre foram ações de efeitos restritos e que parecia não gerar a transformação que todos os brasileiros, no fundo, no fundo, esperavam.

Desta vez foi diferente, por quê?
Algo mudou nesta geração! A luta é a mesma, mas o fato patente é que o conceito mudou, o modo de lutar passou por grandes transformações. Os inimigos não mudaram, mas os lutadores sim. A convulsão sempre esteve viva dentro dos corações de muitos, em muitas outras gerações, mas é evidente que hoje existem ferramentas que têm se mostra mais poderosas, rápidas e eficazes.
Vejamos ao menos duas marcas profundas e decisivas deste movimento:


1) Um movimento apartidário
“Este é um movimento apartidário”, bradam. Frases anarquistas grassam entre faixas e cartazes feitos à mão por jovens estudantes, demonstrando clara insatisfação com todos os representantes do povo, sejam de direita ou de esquerda. 
Portanto, foi notória a inexistência de bandeiras nos protestos, aliás, em muitos locais onde ocorreram os últimos protestos, as bandeiras que outrora simbolizaram a revolução foram simplesmente desarvoradas pelos manifestantes.
Tudo isso porque esta clara a insatisfação do povo com todos os lados desse mesmo sistema político-partidário. Tanto direita quanto esquerda têm se mostrado incapazes de atender às principais demandas do povo e foram enterrados numa mesma vala comum sob o signo de corruptos, incompetentes e ladrões, não despertando mais nenhum tipo de expectativa popular.


2) Rede Social: o poder nas mãos do povo!
Ainda que o sonho de transformação sempre tenha existido no âmago da nação, ainda faltavam instrumentos que proporcionassem essa democracia universal, verdadeiramente popular e participativa. Hoje, esse instrumento está disponível e assegurado a cada cidadão brasileiro.
A internet com suas “redes sociais” são, hoje, as únicas mídias realmente abertas a todos. Através delas, todos têm garantido seu direito de manifestação de opinião e, além disso, têm também a possibilidade de agregar outros que venham assumir a mesma causa, sendo capazes de promover o poder das ruas e das praças, partindo de “ruas e praças virtuais”.
“O sistema dominante ocupou todos os espaços. Agora surgiram a rua e a praça virtuais, criadas pelas mídias sociais. O velho sonho democrático, no qual todos têm o direito de opinar e de contribuir para alcançar um objetivo comum, enfim encontrou espaço para ganhar forma”, citou o filósofo Leonardo Boff, em seu blog, versando sobre o tema.
“As redes sociais têm se mostrado capazes de desbancar ditaduras como no Norte da África, de enfrentar regimes repressivos como na Turquia e agora mostram no Brasil que são os veículos adequados para suscitar reivindicações sociais que sempre foram feitas, mas que quase sempre foram postergadas ou negadas pelo poder público” completou Boff, que também é teólogo.


Wikileaks
Talvez a locomotiva dessa forte onda de liberdade de expressão e opinião tenha sido o bombástico site wikileaks.org.
Lançado oficialmente em 2007, o veículo virtual de notícias vem trabalhando essencialmente com a divulgação de informações importantes que até aquele momento eram tratadas como sigilosas e não encontravam na mídia oficial espaço para sua livre divulgação.
Com a publicação de milhares de documentos que vêm gerando polêmica e furor no cenário político internacional, entre os quais podem ser encontradas desde informações sobre as guerras do Afeganistão e do Iraque, técnicas cruéis de interrogatório utilizadas em Guantánamo, passando por possíveis alvos de ataques terroristas até informações sobre o Brasil, dentre as quais, destaca-se a idéia de se construir um navio nuclear por aqui, a fim de defender as recém descobertas reservas de petróleo.
Os princípios de seu trabalho estão baseados na defesa da liberdade de expressão e da publicação de informações antes restritas, as quais apoiariam o direito de toda e qualquer pessoas de criar e conhecer a história por uma nova perspectiva.
Segundo seus idealizadores, tais princípios se encontram na Declaração Universal dos Direitos Humanos, em particular, o artigo 19, que inspira o trabalho de seus jornalistas e demais voluntários. Tal artigo afirma que toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e de expressão, sem que as mesmas sofram interferências.
Apesar do nome, o site não pode ser classificado como um Wiki*, pois somente usuários autorizados podem inserir e editar as informações contidas nele. Em seu quadro de colaboradores se encontram dissidentes, jornalistas, matemáticos e tecnólogos de diferentes países. Seu diretor, o australiano Julian Assange, é atualmente procurado pela Interpol devido às grandes polêmicas mundiais que sua mídia tem gerado.

*Wiki é uma palavra oriunda de um dialeto havaiano que pode ser traduzida por "rápido, ligeiro, veloz". Adaptado à internet, o termo remonta a sites abertos que são alimentados e enriquecidos de forma coletiva, livremente, por qualquer usuário, formando hipertextos.

Leaks, por sua vez, quer dizer vazamento ou goteira. Juntas, elas formam um termo novo e que dá o nome exato à proposta do site, que é a de divulgar (vazar) informações sigilosas para o mundo todo com a velocidade e a abrangência da internet.

As razões dos protestos
As manifestações pelo Brasil começaram reivindicando melhorias no transporte público e a redução do preço das passagens, no entanto, tomaram uma dimensão gigantesca, revelando muitas outras demandas populares. As redes sociais tiveram um papel fundamental nesse processo e através delas ficou um pouco mais fácil entender quais são os temas mais abordados nos protestos. 
Uma das ferramentas mais úteis da internet é que tudo o que é citado nela pode ser transformado em base de cálculo, pois a Rede é um grande banco de dados. Tomando por base o número de vezes que determinados assuntos são citados nas redes sociais, um site chamado “Causa Brasil” tornou possível saber quais são as maiores reivindicações dos internautas.
Até o fechamento desta edição, cerca de 400 mil menções haviam sido computadas dando as principais razões dos protestos, que estão subdivididas em cinco áreas: direitos básicos, políticos, economia, liberdades individuais e a Copa do Mundo no Brasil.

I - Direitos básicos

1) PREÇOS DAS PASSAGENS 
2) SEGURANÇA 
3) SAÚDE 
4) EDUCAÇÃO 
5) QUALIDADE DO TRANSPORTE PÚBLICO 
6) MORADIA

II - Políticos

1) DILMA ROUSSEF 
2) COMBATE À CORRUPÇÃO 
3) PEC 37 
4) MARCOS FELICIANO 
5) GASTOS PÚBLICOS

III - Economia

1) POLÍTICA ECONÔMICA 
2) PESO DOS IMPOSTOS 
3) COMBATE A INFLAÇÃO

IV - Liberdades individuais

1) DEMOCRACIA 
2) POSTURA POLÍTICA

V - Copa do Mundo no Brasil

1) GASTOS COM AS OBRAS DA COPA 
2) PAPEIS DA FIFA E CBF

- As caras dos protestos
Apesar da reivindicação de que as manifestações não tenham vínculo partidário nem líderes, algumas figuras se destacaram no movimento. As principais dentre elas foram:


MPL – Movimento Passe Livre
Eles foram, sem dúvida, o estopim de todo o movimento. Auto-definidos como um movimento horizontal, autônomo, independente e apartidário, mas não anti-partidário, o MPL promove apoio mútuo entre grupos de diversas cidade mantendo uma base que visa garantir a existência do movimento em nível nacional.

É organizado a partir de Grupos de Trabalho – GT’s, que são formados por no mínimo um e no máximo três membros.

Possui em sua agenda oficial uma semana do dia 26 de outubro como “Semana Nacional de Luta pelo Passe-Livre”, nas quais sempre ocorrem manifestações.

Seus princípios fundamentais estão baseados nos seguintes quesitos:
Autonomia, que é o mesmo que auto-gestão e significa que todos os recursos financeiros do movimento devem ser administrados, criados e geridos pelo movimento, sendo vedado o recebimento de doações de empresas, ONGs, partidos políticos e outras organizações. 

Independência, uma das conseqüências da autonomia. Os coletivos do MPL são independentes entre si, em suas ações locais, desde que respeitem os princípios organizativos nacionais. Agem independentemente de partidos políticos, ONGs, governos, ideologias e de unidades teóricas. 

Horizontalidade, ou seja, todos os envolvidos no MPL possuem o mesmo poder de decisão, o mesmo direito à voz e a liderança nata. 

Apartidarismo, mas não anti-partidarismo. Partidos políticos oficiais e não-oficiais, enquanto organização, não participam do Movimento Passe Livre, entretanto, pessoas de partidos, enquanto indivíduos, podem participar desde que aceitem os princípios e objetivos do MPL, sem utilizá-lo como fator de projeção política. O MPL não deve apoiar candidatos a cargos eletivos, mesmo que o candidato em questão participe do movimento. 

Federalismo, ou seja, é um movimento nacional que se organiza através de um Pacto Federativo, que consiste na adoção dos princípios acima destacados. 

Onde começou o MPL
Apesar de terem ficado nacionalmente conhecidos do grande público há poucos dias, o MPL de São Paulo é fruto de uma experiência iniciada há 13 anos em Florianópolis, Santa Catarina.
Iniciado por membros jovens do PT daquele estado que, desiludidos com a política partidária e influenciados pelos movimentos antiglobalização, passaram a agir de forma autônoma em 2000. 
Após uma consulta nas escolas de ensino médio para definir uma "pauta de luta", o passe livre para estudantes foi eleito como sua bandeira.
Os primeiros passos do grupo foi a tentativa de impulsionar um projeto de lei na Câmara de Florianópolis, o que não obteve sucesso.
Três anos mais tarde, houve uma mudança na forma de atuação, quando estudantes de ensino médio de Salvador bloquearam ruas da cidade por vários dias contra o aumento da tarifa, num episódio que ficou conhecido como a Revolta do Buzu.
Depois disso, em São Paulo o MPL vem realizando protestos desde 2006, nos quais tem enfrentado muita oposição da Polícia como ficou evidente neste último que deflagrou a onda de protestos Brasil afora.


Anonymous
Outra figura que chamou bastante a atenção do público foi o Anonymous. Um ente virtual, mascarado e que já vem atuando através da Rede desde 2004, alegando utilizar ‘linguagens meméticas’ - termo encontrado na teoria publicada por Richard Dawkins em 1976, no livro “O gene egoísta”, a qual sugere a existência de entidades auto-replicadoras que multiplicam idéias e comportamentos na sociedade, com a mesma lógica da multiplicação genética – para disseminar suas idéias anarquistas na nação brasileira.

Em seu site, na www.anonymousbrasil.com, Anonymous alega “não ser uma organização, não ter líderes, tampouco existir oficialmente. Não segue partidos políticos, orientações religiosas, interesses econômicos e nem ideologias de quaisquer espécies, além de não pedir dinheiro nem qualquer favor ou benefício a ninguém”.

Outra faceta de Anonymous é que eles são hacktivistas (hackers + activistas) e assumiram a autoria de alguns ataques virtuais promovidos contra o site da Copa do Mundo, do PMDB e até da Secretaria de Educação do estado de São Paulo, além de ter tomado o controle de perfis do twitter de mídias como a Revista Veja e ter acessado e divulgado publicamente dados pessoais como RG, CPF e telefone diretos da Presidenta Dilma e do pastor e Deputado Marcos Feliciano.

A revolta dos R$0,20 
Uma gota d água na paciência do povo

A onda de protestos que varreu o Brasil chegou também em São Sebastião do Paraíso. Na noite de 20 de junho, uma quinta-feira, cerca de 2 mil pessoas participaram da “Marcha contra a corrupção”. Em matéria para o Jornal do Sudoeste, o jornalista Ralph Diniz descreveu que a concentração dos manifestantes ocorreu no fim da tarde, na praça Comendador José Honório (matriz), onde o grupo se organizou. Ao som de apitos e cânticos que pediam o fim da corrupção, a “onda” seguiu pela rua Dr. Placidino Brigagão até a Praça dos Imigrantes, em frente ao prédio da prefeitura. Lá, milhares de pessoas fizeram um minuto de silêncio em respeito ao ex-prefeito Waldir Marcolini, falecido na manhã daquele dia, e, logo depois, cantaram o Hino Nacional.

Entre outras reivindicações, o grupo também proferiu palavras de repúdio ao arquivamento da comissão que investigaria as dívidas de IPTU da família do prefeito. Em seguida, os manifestantes voltaram à praça da matriz, onde aconteceu a manifestação final.

Como no resto do país, a manifestação ocorreu de forma mais pacífica, no entanto, num ato isolado, um indivíduo não identificado, desferiu um soco contra a porta de vidro de um consultório odontológico na rua Dr. Placidino Brigagão.

Por ser um movimento totalmente jovem, contatamos gente nova de nossa cidade que vem despontando de alguma forma nos movimentos sociais de Paraíso, solicitando cada um deles a dar sua opinião sobre o momento vivido pelo Brasil.

Bruno Félix

O músico Bruno Félix foi umas das pessoas atuantes durante o protesto paraisense. Com megafone em punho, deu voz ao grito de guerra dos manifestantes aqui da cidade. Para ele “se cada cidade, por menor que seja, parar e protestar por justiça, a voz dessa população certamente atingirá Brasília. Mas é preciso cuidar também de nosso quintal”. Félix, que também é advogado salienta que é a favor das manifestações pacíficas e aproveita para ressaltar o bom trabalho realizado pela Polícia Militar aqui em Paraíso, pregando que “se queremos ter nossa voz ouvida, e exigir autoridade, primeiro devemos aprender a trabalhar em conjunto com as mesmas, pois, antes de serem militares, são brasileiros, cidadãos que desejam viver em um país melhor, assim como nós manifestantes”.

Guilherme Domingues

Guilherme Domingues é Consultor em Comunicação e Marketing também participou das manifestações e entende que o protesto ocorrido em Paraíso não está isolados, mas que faz parte de uma mesma insatisfação da juventude brasileira. Questionado sobre o que pensa disso tudo, ele vai além e diz que “temos que nos manifestar, mas também temos que nos reunir para discutir e elaborar projetos e apresentá-los aos nossos representantes”, entendendo que o papel do cidadão inclui essa participação mais profunda nas decisões e rumos da nação. Na opinião do Consultor, a sociedade precisa urgentemente de “ações governamentais desenvolvidas em conjunto por meio de programas que proporcionam a garantia de direitos e condições dignas de vida ao cidadão de forma equânime e justa”, ou seja, “Políticas Sociais devem ser estabelecidas e seguidas assegurando à população melhor Educação, Saúde, Trabalho, Assistência Social, Previdência Social, Justiça, Agricultura, Saneamento, Habitação Popular e Meio Ambiente”.

Davidson Scarano

Sobre esse potencial das redes sociais na mobilização dos cidadãos neste e em outros protestos que têm sido realizados em Paraíso, Davidson Scarano, Diretor Acadêmico da Faculdade Libertas, garante que vem estudando o assunto há um bom tempo, inclusive, foi tema de sua dissertação na faculdade. 

Ele diz que “a cibercultura é capaz de interferir na formação de uma inteligência coletiva” e que “com linguagens, imagens e vídeos de grande penetração, as redes sociais estão influenciando uma geração com provocações ao pensamento e aos comportamentos pessoais”, assevera. Segundo Davidson, “pensamentos e ações coletivas que têm início no ambiente virtual se espalham no mundo real, com a rapidez com que usuários das redes se mobilizam, o que causa interferência no mundo real”.

Marcelo Morais

Um cidadão que se destaca por sua atuação em assuntos político-sociais de Paraíso é o professor Marcelo Morais. Utilizando há algum a rede social para a divulgação de seus ideais, Marcelo entende que os protestos do povo foram junção da “fome com a vontade de comer” do povo. Em sua opinião, “tudo isso foi apenas um reflexo do que vivemos diariamente em nosso País, onde as prioridades são sempre deixadas de lado e as pessoas simplesmente se cansaram disso”. Político atuante na sociedade, mesmo sem ter um cargo político, o Matemático ainda salienta que os cidadãos devem se tornar mais conscientes e participativos nas questões políticas da cidade e da nação. Ele diz: “Não adianta você ir à Câmara de Vereadores protestar, sem ao menos saber os nomes dos vereadores”.

Cristiane Bindewald

A Jornalista Cristiane Bindewald confessa que a princípio, ficou receosa diante dos movimentos populares, temendo que os manifestantes pudessem estar sendo usados, como foram em outros momentos históricos brasileiros. No entanto, ela diz “mudei de opinião e acredito que este momento atual é muito significativo, pois representa o despertar do país para o fato de que o protagonista da história desta nação é cada brasileiro”. Com as esperanças renovadas por este momento histórico do Brasil, ela acredita que “estamos enfim entendendo, mesmo que lentamente, que temos direitos e deveres como cidadãos, e que através deles podemos trilhar um novo caminho de justiça e dignidade”.

Conclusão 
Dizem que Che Guevara foi o autor da frase “ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética”. Não tenho certeza! O que sei é que ‘Che’ é um dos revolucionários socialistas mais famosos do século XX e sua efígie pode ser vista estampada em bandeiras de times de futebol, em tatuagens, camisetas, ‘bottons’ e uma miscelânea de artigos comercializáveis em todo o mundo capitalista, o que chega a ser irônico, no mínimo. Sei também que o mesmo Che dizia que "a juventude era a argila principal de sua obra e que depositava nela todas as suas esperanças para moldar o futuro". 

O fato é que nossos jovens têm grande potencial e, aqui no Brasil, muitos deles nascem, crescem e evoluem como verdadeiras flores no lixão, o que demonstra sua força extraordinária. 

As causas reveladas por moços e moças aparentemente jovens demais para entender a completude do que é o Brasil são simplesmente o BASTA de muitas gerações cansadas, frustradas e que explodiu por razões aparentemente ínfimas, simbolizadas pelos parcos vinte centavos.

Estamos passando aqui no Brasil por um colapso generalizado de infra-estrutura, problemas com portos, aeroportos, transporte público, saúde e educação. Não somo pobres e os impostos são extremamente elevados, ou seja, aparentemente, não há razões para estarmos numa situação tão ruim nesses aspectos acima citados. 

Nas capitais as pessoas passam até quatro horas por dia no trânsito, ou em seus carros ou transporte público lotado que é de péssima qualidade, em algumas cidades.

Além disso, é óbvio o vácuo que se criou entre governo e povo. Nas últimas décadas fomos todos atropelados, quase sempre calados e sem ter onde nos apoiar, por tsunamis imensas de injustiças sociais e favorecimentos de elites. Sobretudo, vivemos submersos num claustrofóbico “estado de corrupção”, que mais se assemelha a um câncer que vem devorando a nação.

Nossos políticos se tornaram a verdadeira elite brasileira e são comprovadamente os maiores latifundiários do Brasil, além de serem donos de diversos meios de comunicação, grandes empresas, ou seja, há muito poder nas mãos de alguns poucos, uma velha problemática brasileira.

Como se não bastasse, enfrentamos vários escândalos de corrupção que permanecem sem julgamento, além de muitos casos em julgamento que têm forte tendência a terminar em pizza.

Por fim, o maior escândalo de corrupção de nossa história, o “Mensalão”, terminou com a esperada condenação dos réus, mas ninguém foi preso de fato.

Sem as caras definidas, sem sabermos exatamente a aparência e o ideal dentro do coração dos líderes desse levante, o fato é que existe uma grande probabilidade de novas lideranças serem erguidas. O tempo é propício para a renovação! 

Os fatos velados nos protestos deverão ser revelados pela história que hoje vem sendo construída de uma maneira diferente, pois a internet tem dado muitas nuances diferentes para os fatos, então, antropólogos, socialistas, filósofos e historiadores terão nas mãos muita matéria prima para construir uma idéia concreta do que estamos vivendo nestes dias aqui no Brasil.

Só o que já sabemos é que esses protestos não são fruto de grupos isolados, sindicatos, movimentos ou motins de extrema esquerda, como alguns veículos da imprensa brasileira tentaram nos convencer. Também não é uma rebelião adolescente, mas uma revolta que vem sendo construída há muito tempo e que conta com a participação de partes intelectualizadas da sociedade, que possui agendas de debates e fóruns pontuais em todo Brasil e que visam colocar um fim a todas essas questões.

O gigante acordou? Parece que sim!

Rafael Cardoso

Fontes: New York Times; iReport-CNN; Blog Leonardo Boff; anonymousbrasil.com; obviousmag.org; Revista Veja, Movimento Passe Livre, Jornal do Sudoeste.



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