Especial lembra 50 anos do golpe civil-militar





Militantes, políticos, militares e advogados contam como tiveram suas vidas impactadas pelo regime militar


"O medo passou a ser meu companheiro, dos 13 anos até a idade adulta. O medo de falar, de falhar, medo de sair em grupo, medo de falar demais."

"Militares histéricos nos caçavam tomando o lado do Pentágono na Guerra Fria. Fomos driblando a Ditadura e a Censura, lutando capoeristicamente, mudando sempre nossas estratégias e linguagem para as peças, até que, depois de várias tentativas, nos pegaram".

"Recordo-me de minha mãe, às vésperas do Dia das Mães de 1964, escrevendo uma carta, publicada no fórum dos leitores do extinto Última Hora. Frisava que, nesse dia festivo, fossem lembradas as mães apartadas de seus filhos, em razão do arbítrio que se abatera sobre o país. Presos? Foragidos? Mortos? Seis anos mais tarde, mamãe foi detida. Ilegalmente. Viveu sua estação no inferno".

"Os militares me buscaram, juntamente com a minha irmã. Nos levaram para o quartel do Barro Preto, em Belo Horizonte. Foram alguns dias de sofrimento, de ameaças. Fui processada e minha irmã, excluída por ser menor. Fomos para a clandestinidade, tive meus filhos sem poder usar minha identidade."

"Não havia como escapar do clima de repressão: oito anos de doutrinação tosca e forçada na escola deixaram em mim uma aversão ao hino nacional."

Os relatos acima, escritos por Pedro Luiz Moreira Lima, José Celso Martinez Corrêa, Eugenia Zerbini, Maria Amélia Teles e Antonio Luiz M. C. Costa, passam a ser publicados a partir de hoje no site de CartaCapital. Resumem o impacto do golpe civil-militar, que em 1º de abril completa 50 anos, na vida de seus autores. São dezenas de artigos de personalidades, entre os quais ativistas, artistas, políticos e juristas que sofreram direta ou indiretamente com a deposição do presidente eleito João Goulart em 1964. (O primeiro texto está publicado. Leia AQUI).

O golpe, arquitetado durante meses por integrantes das Forças Armadas, do empresariado, da grande imprensa e da sociedade civil, instaurou uma ditadura que durou 21 anos no País. O objetivo era frear as chamadas reformas de base anunciadas por Goulart - conjunto de mudanças nas áreas bancária, fiscal, urbana, administrativa, agrária e universitária. As forças do atraso diziam que o Brasil corria o risco de se transformar em um regime comunista a exemplo de Cuba e da União Soviética. Cinquenta anos depois, o argumento ainda é usado para justificar o governo civil-militar, que reprimiu, torturou e matou quem ousou se opor à ordem instalada à força.

Mais do que um resgate à memória, os textos lançam luz sobre os atores de uma História interrompida por um Estado de exceção. Ao serem lembrados, servem como um apelo para que os erros que levaram ao golpe não voltem jamais a acontecer.

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