"O Comício da Central é um momento fundamental da História recente do país. Revisitá-lo e celebrar sua memória é encarar com olhos vivos os tempos presentes".
Há exatos 50 anos, no dia 13 de março de 1964, o presidente João Goulart falava ao povo brasileiro no histórico Comício da Central do Brasil. Na praça, 300 mil pessoas!
Todos clamavam por reformas estruturais, especialmente a reforma agrária. Jango anunciava a nacionalização de refinarias de petróleo, o que enfrentava interesses poderosíssimos da oligarquia que dominava o país havia mais de 400 anos.
Ao mesmo tempo, seu governo sofria com uma forte ofensiva conservadora, que, em reação, o acusava de tentar impor uma 'República Sindicalista'.
"Aqui estão os meus amigos trabalhadores, vencendo uma campanha de terror ideológico e sabotagem", disse o então presidente, para as milhares de pessoas e para os principais canais de televisão e rádio.
Referindo-se às forças de oposição, completou: "O que eles querem é uma 'democracia' de povo emudecido, amordaçado nos seus anseios e sufocado nas suas reivindicações".
A leitura do discurso revela a consciência do governo sobre as intenções conspiratórias que já estavam maduras em altos círculos econômicos e militares - e também nos corredores de embaixadas e consulados. Mas as palavras do presidente demonstravam confiança:
"Sei das reações que nos esperam, mas estou tranqüilo, acima de tudo porque sei que o povo brasileiro já está amadurecido, já tem consciência da sua força e da sua unidade, e não faltará com seu apoio às medidas de sentido popular e nacionalista. (...) Nenhuma força será capaz de impedir que o governo continue a assegurar absoluta liberdade ao povo brasileiro. E, para isto, podemos declarar, com orgulho, que contamos com a compreensão e o patriotismo das bravas e gloriosas Forças Armadas da Nação."
A avaliação de Jango estava errada. Pouco mais de duas semanas depois, seu governo foi deposto por um golpe com apoio de alguns setores sociais da classe média e das elites e o Brasil iniciou um longo período de ditadura militar. Durante mais de 20 anos, o país viveu sob um regime que fechou o Congresso, suprimiu direitos, censurou imprensa e expressões artísticas, perseguiu, exilou, torturou e matou opositores políticos.
O Comício da Central é um momento fundamental da História recente do país. Revisitá-lo e celebrar sua memória é encarar com olhos vivos os tempos presentes. Muitas reformas ali propostas, mesmo passado meio século, continuaram necessárias, urgentes, atuais. A Democracia, a Liberdade e a Justiça Social são valores inegociáveis. Seguimos vigilantes, sem jamais esquecer.
Fonte: Chico Alencar
Dica do Gabriel Ferrão
Comentários
Postar um comentário