Saída de Falcão provoca debandada na Seleção Brasileira de futsal


Após 16 anos vestindo a camisa do Brasil, Falcão deixa a Seleção. Bicampeão mundial e quatro vezes melhor jogador do mundo, o ala de 36 anos foi o primeiro a anunciar sua saída, no dia 20 de março. Depois dele, outros sete jogadores de Seleção também se recusaram a continuar atuando sob a atual gestão da Confederação Brasileira de Futsal (CBFS). Entre eles, o ex-capitão Vinicius, e Neto, eleito o melhor jogador do Mundial de 2013. No futsal feminino, Vanessa, eleita três vezes a melhor jogadora do mundo, também aderiu ao movimento. “Saí para chamar atenção ao que está acontecendo. Eu nunca vi nada parecido no esporte com esse nosso protesto: abrir mão de vestir a camisa da Seleção por mudanças na gestão”, diz Falcão.

As críticas são voltadas especialmente ao diretor de futebol, Edson Nogueira, que estaria cortando nomes convocados pelo treinador. “Os jogadores que fazem alguma crítica ou reivindicação são riscados, como eu, o Thiago e o Neto. Ele age como um ditador”. 

Vanessa diz que quase deixou de receber a declaração de prestação de contas da CBFS necessária para receber o Bolsa-Atleta, por causa de uma entrevista que havia dado, criticando o fato de que a Seleção Brasileira não participaria do Mundial. "A seleção do futsal feminino tem apenas uma competição e a CBFS diz que não tem verba para nos inscrever? Foi essa declaração que incomodou os dirigentes. Então liguei para o presidente, Aécio de Borba Vasconcelos, para pedir o documento que precisava para receber o Bolsa Atleta e ele me respondeu: 'Por que a Confederação vai ajudar a quem só nos critica?'. Tive que pedir desculpas para então receber o que me é de direito".

A atleta reclama da falta de organização nas principais competições da modalidade: a Liga Brasil e a Taça Feminina. "Não temos calendário até agora". Além disso, Vanessa conta que foram disputar o Mundial na Espanha sem fisioterapeuta, e que tiveram de ir atrás de um profissional por conta própria. Também diz que as 14 jogadoras ficaram hospedadas em um alojamento com dois quartos e um banheiro - sem ventilador e televisão. "Hoje eu tenho mais orgulho de vestir a camisa do meu clube, Unochapecó, do que a da Seleção, que sempre foi meu sonho de criança."

Falcão também reivindica melhoras nas estruturas do Centro de Treinamento e de hospedagem durante competições, e acusa a Confederação de não cumprir suas obrigações para com os atletas. “A gente está abrindo o olho de muita gente, inclusive do Ministério Público. Um esporte no qual entram R$ 40 milhões em dois anos e ainda assim deve para os atletas desde o ano passado. Tem que fazer uma varredura lá dentro, uma prestação de contas. Com patrocinadores tão fortes, não tem custo de ajuda para nenhum atleta e não consegue cumprir suas obrigações. Hoje em dia não tem mais cabimento o comando de uma entidade, que está lá há 40 anos, com todos os cargos ocupados por sobrinhos, filhos, amigos. Esse movimento é feito pelo bem da próxima geração”.

Para Falcão, os patrocinadores da Seleção Brasileira, que são os mesmos que o apoiam, também devem “abandonar o barco”: “O Banco do Brasil já saiu, o Correios dificilmente irá renovar. A Chevrolet também talvez não renove. E já estamos sem marca esportiva. A situação é muito complicada”.

No domingo passado, 30 de abril, a Seleção Brasileira jogou pela primeira vez sem os nomes de peso, contra a Argentina na final da Copa das Nações, e sofreu a primeira derrota na temporada. “O impacto é grande. Vimos uma seleção inexperiente, os jogadores não têm culpa. Não tem como passar o bastão de uma hora para outra. O ginásio estava vazio e o Brasil foi dominado pelo time adversário. O ego de um diretor não quer que ninguém o contradiga. Ele 'limpou' todo mundo, do treinador ao cozinheiro, e montou uma seleção própria”.

Procurada pelo FOXSports.com.br, a CBFS disse que só se pronunciaria por meio de uma nota oficial publicada no dia 26 de março. A entidade alega que não deseja polemizar com Falcão e defendeu que o futsal do País não andou 20 anos para trás, como diz o jogador: “Isso é esquecer a história vitoriosa que o próprio Falcão ajudou a construir, pois nenhum dos 209 países filiados à Fifa obteve, nem por sonho, como o Brasil, o láureo de heptacampeão masculino (em 10 títulos disputados), nem de tetracampeão mundial feminino (em 4 títulos disputados)".

Sobre os patrocinadores, a CBFS disse que a prioridade das empresas pela Copa do Mundo e pela Olimpíada tem dificultado a busca por novos apoiadores. A entidade também rebate a acusação de ter “virado uma ditadura”: "O atleta demonstra que ainda não tomou conhecimento de alteração estatutária aprovada pela unanimidade da Assembleia Geral".

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