Cooperação


"Certo fazendeiro se tornou famoso por sua abundante plantação de milho. Todos os anos, no concurso da melhor plantação, ele era sempre o primeiro colocado. Certo dia, um repórter foi entrevistá-lo:
— Qual é o segredo do seu sucesso? Como seu milho pode ter uma qualidade tão boa a ponto de ser o melhor da região?
— Bem, o segredo está em compartilhar a semente de qualidade com meus vizinhos plantadores de milho — respondeu o agricultor.
— Mas, como, se o senhor distribui suas sementes de qualidade para que os seus concorrentes tenham um milho tão bom quanto o seu? — tornou a indagar o repórter.
— Sim! Esse é o segredo de eu ter sempre um milho de qualidade, pois o vento carrega o pólen do milho maduro e leva-o de campo em campo. Se meus vizinhos cultivassem milho inferior, o vento carregaria o pólen do milho deles para o meu milharal, e, assim, a qualidade do meu milho cairia. Portanto, é impossível eu ter milho de qualidade se os meus vizinhos também não o tiverem — explicou o homem."

Quero refletir sobre a cooperação!
Entende-se que fanatismos políticos e religiosos, ganância e egoísmo, traços do perfil humano, produzem comportamentos desequilibrados que impedem a humanidade de dar passos mais incisivos no rumo de sua evolução, ou pior, pode nos conduzir ao auto extermínio.

O termo "Homo homini lupus" (o homem é o lobo do homem), criado por Plauto (254-184) e, mais tarde, popularizado pelo filósofo inglês, Thomas Hobbes, dá um pouco da dimensão dessa característica antropofágica que consome os projetos evolutivos da humanidade.

Existem pessoa, no entanto, que possuem muita esperança no futuro da raça humana, como é o caso do pensador australiano, John Stewart, membro do Grupo de Pesquisa de Evolução, Complexidade e Cognição da Universidade Livre de Bruxelas (Bélgica).
Segundo ele, não é preciso buscar a fonte dessa esperança no reino do sobrenatural. De acordo com o que descreve no estudo "The Meaning of Life in a Developing Universe" (O Significado da Vida em um Universo em Desenvolvimento), publicado em uma recente edição especial da revista Foundations of Science, a própria teoria da evolução, vista sob uma ótica mais ampla, dá pistas do que deverá acontecer no futuro da humanidade.
Para o pensador australiano, um dos pilares dessa nova perspectiva da evolução reside no reconhecimento de que ela segue uma trajetória, o que indica um direcionamento prévio. "Em particular, a evolução na Terra repetidamente reuniu entidades de pequena dimensão em organizações cooperativas em uma escala cada vez maior", escreve. O processo se repete desde o surgimento das primeiras e mais primitivas células, as quais deram origem a células mais complexas, que, por sua vez, formaram organismos multicelulares, os quais depois se organizaram em sociedades cooperativas. "(...) Uma sequência similar parece ter desdobrado na evolução humana: a partir de grupos familiares, de bandos, de tribos, para comunidades agrícolas e cidades, estados, nações, e assim por diante", analisa Stewart. De acordo com ele, a trajetória evolutiva terrena não depende de seleção natural baseada em genes ou em processos culturais. Sua verdadeira mola mestra é o potencial, em todos os níveis de organização, que as equipes unidas por objetivos comuns possuem para obter melhores resultados do que indivíduos ou grupos isolados.

O conceito leva a uma discussão na qual a biologia tradicional ainda reluta em entrar: a evolução se move no sentido de favorecer o egoísmo ou a cooperação? A resposta preferida era o egoísmo, lembra Stewart, mas, nas últimas duas décadas, numerosos estudos fizeram o pêndulo se mover para a outra alternativa: "(...) Essas pesquisas mostram que a cooperação complexa emergirá entre indivíduos egoístas se eles estão organizados para que possam se beneficiar de seus atos cooperativos – e se aproveitadores e outros não colaboradores são contidos ou punidos."

O grande desafio: aprender a cooperar
Aprender a cooperar, portanto, é o grande desafio da história humana neste século, afirmam Capra e o oceanógrafo norte-americano Danny Grunbaum, estudioso da cooperação na vida marinha. A humanidade já consegue pôr adiante a Wikipedia, uma enciclopédia escrita por uma infinidade de autores, mas continua a mostrar que pode fazer os esforços de cooperação naufragarem de uma hora para outra, como se verifica em congestionamentos na hora do rush ou em estradas. A tendência, no entanto, é que superemos essa etapa – inicialmente pela negociação nas situações de conflito, em seguida pela percepção cada vez mais clara do melhor caminho a seguir em termos do interesse coletivo.

"A cooperação nunca significa a ausência de conflito de interesse", diz Grunbaum. "Ela significa um conjunto de regras para negociar conflitos de interesse de uma forma que os resolva." Nosso aprendizado nessa área está acelerado, afirma ele, em parte porque a sociedade está se tornando bem mais integrada e a comunicação está acontecendo muito mais rapidamente no mundo. "Eu diria que os seres humanos são extraordinariamente cooperativos, e estamos ficando mais cooperativos a todo momento", avalia o oceanógrafo.

Nesse caso, qual seria a próxima etapa da evolução humana? Para Stewart, ela estaria associada ao surgimento de uma sociedade sustentável e marcada pela cooperação em todo o mundo. "Tal como acontece com as cooperações em todos os níveis, a sociedade global diminuiria conflitos internos e competições destrutivas, incluindo a guerra e a poluição", assinala o pensador. "Transições anteriores demonstram como isso poderia ser organizado."

Concorrência e seleção
O pensador australiano observa que, até o estágio atual, a evolução na Terra tem sido pautada pela concorrência e pela seleção. Essas pressões, porém, se enfraquecem diante do surgimento de uma sociedade global, pois ela não terá nenhum concorrente direto. "Desse ponto em diante, a evolução continuará a avançar se a sociedade global emergente decidir fazer avançar o processo evolutivo intencionalmente", afirma Stewart. "A sociedade deve despertar para a possibilidade de que está vivendo no meio de um processo evolutivo direcional, perceber que a continuação do êxito do processo depende de suas ações intencionais e, então, empenhar-se ativamente para fazer esse processo avançar." Gente disposta a cooperar e alinhada com o bem-estar da coletividade tem, portanto, perfil afinado com a sociedade do futuro. E os que fogem desse figurino, como ditadores, extremistas religiosos, racistas, xenófobos e outros inveterados pregadores e praticantes da desigualdade? Quem for incapaz de fazer a transição para os novos tempos será descartado à maneira de uma experiência evolutiva que falhou, avalia Stewart. Como, segundo ele, a humanidade já se aproxima do limiar crítico da transição evolutiva (algo que os avanços na genética e na física já estão sinalizando), a observação serve de alerta: aqueles que quiserem fazer parte do primeiro grupo devem pôr mãos e mentes à obra o quanto antes.

Adaptado do texto "A UNIÃO FAZ A FORÇA: PARA EVOLUIR
, É PRECISO COOPERAR".

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