A música e o progresso paraisense


Progresso é a ação de ir adiante; progredir é não ficar parado no tempo, não viver estático. 
Misturar os assuntos “progresso” e “música” é algo lindo, revelador, que deve trazer às nossas mentes a compreensão da importância dos artistas como agentes ativos na formação da sociedade em que vivem.
Costuma-se ter a impressão de que o músico - cuja imagem muitas vezes é relacionada à boemia, à preguiça e à vida mansa - não possui qualquer outra função social, senão a de produzir entretenimento para os cidadãos de bem (trabalhadores de verdade). Talvez isto seja herança do 'equivocado' modelo lúdico difundido na fábula da Cigarra, que canta durante o verão, enquanto a Formiga trabalha, acumulando riquezas.
No entanto, o progresso não é apenas fruto de trabalho braçal, tampouco advém meramente da produção de riqueza, pelo contrário, ele nasce nas profundezas da inspiração de poetas, cantores, escritores, pintores, atores e demais artistas que refletem de forma lírica os pensamentos que promovem as transformações fundamentais para a evolução social.
Artistas atuam nos filmes e fazem refletir; compõem e cantam canções que inspiram e abrem o entendimento; compartilham com sua arte a visão de novos mundos, enfim, a cultura é sim parte determinante do progresso humano.
Paraíso precisa de projetos! 
De uma programação cultural que dê espaço aos músicos locais para tocar (remunerando-os por isto); de um festival de novos talentos locais que ocorra todos os anos (com premiações que estimulem a participação do maior e mais qualificado número de artistas); precisa juntar pessoas em torno disso, estimular a crescer, a abrir novos palcos e espaços de difusão de seus talentos; precisa expandir a mentalidade de hobby com que trata seus músicos e começar a trata-los como profissionais. A partir disso, descobriremos que existe muito mais do que a música comercial ‘importada’, que é imposta através das rádios e canais da TV aberta e que aqui mesmo neste solo existem grandes joias de valor incalculável, enterradas, esperando pelo garimpo e pela lapidação para que possam brilhar no mundo e nos encher de riqueza cultural e orgulho.
Por outro lado, a cidade precisa saber que existe um mundo enorme de cultura que pode ser desfrutado aqui. Que existem músicos lutando para sobreviver com dignidade, dando aulas (mesmo não sendo professores), tocando em troca de cachês modestos, trabalhando em dois, três empregos para sustentar seu sonho e vocação.
Ora, de que vale conhecer o mundo todo e não saber o que acontece em seu próprio quintal?
Temos aqui grandes bateristas, percussionistas, guitarristas, baixistas, violeiros, gaiteiros, acordeonistas, violinistas, pianistas, saxofonistas, flautistas e diversos outros instrumentistas, além de bons cantores e letristas. Todos esses estão por aí e a maioria do povo da cidade nunca os viu, ou ouviu.
São artistas capazes e esforçados, trabalhadores que querem progredir e produzir progresso, não somente no quesito dinheiro, mas, sobretudo, na construção de uma cidade melhor, mais bonita, mais feliz, com uma vida noturna mais animada e vibrante.
Ademais, entenda-se que músicos não querem fazer barulho, nem perturbar a paz, pelo contrário, músicos são capazes de dar sentido aos sons, aos sentimentos e ajudar na produção do progresso de sua cidade, região e nação.
Paraíso observe os músicos que colocaram sua arte a serviço de seu progresso!

Rafael Reparador
Músico, compositor e jornalista

Publicado no Jornal do Sudoeste

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