Existe um brasil desconcertante no Brasil. Um que pensa ser imperialista, apesar de ser colonialista, que finge ser elite, apesar de ser vassalagem, que ama ser branco, apesar de ser afrodescendente, que ama ser europeu, apesar de sua questionável origem ibérica.
Estranho vivermos sob os auspícios de uma história colonial ancestral e não conseguir enxergar povos como os da África, ou do Oriente Médio (colonizados por eras como nós) como seres humanos.
Entendo que essa visão comum que se tem desses povos é fruto de uma técnica simples que sempre foi usada, mas que hoje é sistematizada: a propaganda!
Sobre os africanos, um bom exemplo disso é a história do mercador londrino chamado John Locke, que navegou até o oeste da África em 1561 e ao voltar para seu país espalhou seu conceito ao referir-se aos africanos como “bestas que não possuem casas” e “pessoas sem cabeças que tem suas bocas e olhos em seus seios”.
Ali, ele formou uma imagem que, parece, ficou gravada em nossas almas!
Admitamos que é assim que enxergamos muitas dessas “pessoas”; bestas! Será que fomos iludidos pela antiquíssima propaganda, ou será que temos a ilusão de ser melhores do que eles, mesmo que, na verdade, sejamos apenas sulamericanos vivendo desonrosamente abaixo da linha do Equador?
Com a frase do historiador Stéphane Courtois, quero provocar uma reflexão. Veja:
“A História é uma atividade que nos provoca a infelicidade, pois nada fica em silêncio ou na deslembrança quando historiadores fazem valer sua tarefa; a de lembrar as alegrias e as catástrofes vividas no passado”.
Quando revisitamos a história da escravidão norte americana lemos sobre os ‘Black Panthers’, o Partido dos Panteras Negras, da Califõrnia, acusando os racistas daquela nação de terem participado do massacre de 50 milhões de negros!
Apesar de a humanidade ter superado, em partes, a sistemática escravidão, tenho certeza de que aqueles mortos também têm o direito de ser lembrados, para que, ao menos, reflitamos nas atribulações, sofrimentos, angústias, violência física, mental e na morte de seres humanos que foram tratados como “bestas”.
Tipos semelhantes de massacre aconteceram em maior e menor escala em diversas outras partes do planeta, com os mais variados motivos com uma similaridade: poderosos chacinando fracos; maiorias destruindo minorias.
Fosse a maioria da orientação política ou religiosa que fosse, sempre utilizava o poder para dominar seus oponentes. Capitalistas, comunistas, cleros, leigos, monarquistas, plebeus, latifundiários, burgueses, industriais, banqueiros, sindicalistas… não importa de onde venham, eles quase sempre se tornam opressores ao tomar o poder.
Só acho, particularmente, uma incongruência sofrer terrivelmente pelos Europeus e não pelos Africanos, visto que somos, social e geneticamente, muito mais africanos do que europeus.
Acho uma incongruência estar ao lado dos ricos, sendo pobres. Acho uma incongruência defender os bandidos históricos, ao invés de estar ao lado das históricas vítimas.
Acharia mais justo e cristão se sofrêssemos pelo “ser humano”, pelo “próximo”, indistintamente.
O problema histórico é que os oprimidos sempre reagem e estão reagindo agora, novamente, respondendo com as armas que tem!
O mundo está em guerra e os fortes sempre matam milhões de vezes mais do que os fracos, porém, de vez em quando, os fracos acertam uma flechada num ‘calcanhar de aquiles’ de um poderoso guerreiro e é aí que as elites ficam atônitas.
O ‘terrorista’ Coringa, em um de seus célebres discursos no filme “Batman, o Cavaleiro das Trevas”, afirmou que não tinha planos, mas que os poderes instituídos tinham.
O personagem disse a Harvey Dent, na cena do hospital:
“Se amanhã eu disser à imprensa que um vadio vai levar um tiro, ou que uns soldados vão explodir, ninguém entra em pânico. Porque tudo isso faz parte do plano! Mas se eu disser que um prefeitinho vai morrer todos ficam doidos. Altere a ordem estabelecida e tudo vira caos e o caos gera o medo”.
Na época da escravidão, milhões de negros escravos morrendo era trivial. Hoje, islâmicos, africanos, sulamericanos morrendo é trivial, seja pelas mãos de quem for, ou pelas razões que forem.
Mas quando um americano ou um europeu sofre uma resposta a essa mesma violência, a opinião pública se desestabiliza e tudo vira caos.
Oremos, meditemos, repensemos e melhoremos nossas posições nesse jogo!
Rafael Reparador
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