O Brasil é um lugar onde os direitos humanos são tratados com enorme descaso em praticamente todos os setores da sociedade. Muitas vezes, sua defesa é tida como motivo de piada por representantes de algumas linhas de pensamento ditas conservadoras.
Alguns de nossos legisladores afirmam que as minorias devem se curvar diante das maiorias, revelando o nível de desrespeito que se tem pela pessoa humana, em favor da manutenção da supremacia de uma classe sobre as demais.
Esse quadro é reflexo de uma cultura que perpetua a desigualdade.
O Brasil é um país injusto e essa injustiça está enraizada, ente outras coisas, numa retrógrada cultura religiosa, a qual tem sido utilizada como ferramenta de conservação de um status quo.
Deveríamos recorrer à “genealogia da moral nacional” para chegarmos ao momento exato em que esse vírus do mal foi inoculado em nossa sociedade. Entendo, porém, que devemos no ater à revelação de que grande parte da raiz desse desequilíbrio nacional que vivemos está plantada na persistente ideologia que se apõe ao laicismo do Estado.
Chamo de desequilíbrio as ondas sequenciais de violência que vêm acontecendo entre vários segmentos sociais, culminando no episodio ridículo da pedrada na jovem candomblecista, aparentemente, empreendida por seguidores da religião evangélica.
Violência é o ato de violar, ou seja, desrespeitar, estuprar, invadir algo ou alguém; e se eu pudesse resumir o momento que vivemos aqui no Brasil em apenas uma palavra, seria esta: “violência”.
Como se não bastasse a oposição que se faz ao pobre, ao homossexual, ao afrodescendente, agora o “não evangélico” é visto como uma minoria e, por isto, relegado ao desprezo, ao ódio e ao preconceito.
Quando se fala em minorias, não se deve pensar simplesmente em números, mas em participação nas mesas das decisões. Em nosso país, por exemplo, mais de 50% da população é formada por negros e pardos, que estão representados em apenas 20% dos deputados federais. Em alguns estados, o legislativo possui menos de 10% de parlamentares negros e pardos.
Entre as mulheres, a história se repete. São mais de 51% da população brasileira, mas apenas 10% da Câmara dos Deputados é formada por mulheres.
No lado oposto dessa ordem, hoje em Brasília, se todos os deputados da chamada Frente Parlamentar Evangélica fossem de um mesmo partido seriam o terceiro maior da Câmara Baixa, perdendo apenas para PT e PMDB.
Qual o reflexo disto em nossa sociedade?
Influência cada vez mais contundente da filosofia religiosa evangélica nas decisões políticas de nossa nação.
Infelizmente, esses representantes parlamentares da religião evangélica, em coro com vários de seus pastores oriundos da infinita gama de denominações religiosas de correntes semelhantes desonram ao Jesus Cristo que - com lábios falsos - afirmam seguir. Visto que, ao invés de amar, tolerar, acolher e respeitar, vociferam palavras de ódio e intolerância, crucificando e condenando os diferentes a fogueiras ideológicas. Isto quando não acabam inflamando fiéis incautos e de mentes fracas ao “juízo divino com as próprias mãos”.
Sim, pastores e parlamentares evangélicos, em sua jornada pró família tradicional, branca e cristã, de modo geral, discursam em favor da intolerância e da violência. O que se vê como resultado disto são atos lamentáveis de violação a tudo e todos que representam Satanás em sua mentalidade encharcada de religiosidade cega.
Tal como nas cruzadas e santas inquisições, hoje, não evangélicos são considerados pagãos, seus críticos são qualificados como hereges, homossexuais são pervertidos doentes que precisam de libertação espiritual, umbandistas e candomblecistas, por sua vez, são tratados como seguidores do próprio Satã, ou seja, inimigos.
Temo pensar que a pedrada seja só o começo!
Rafael Reparador
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