"Finda uma era para a música ao vivo em Paraíso


Após mais de uma década abrigando várias bandas e músicos da cidade e região, o Original Chopp - um dos mais tradicionais e badalados bares de Paraíso - acaba de fechar seu palco, encerrando a música ao vivo em suas noites. A interminável guerra judicial que vinha sofrendo nos últimos anos, após diversas ações movidas pela Promotoria de Justiça na cidade, pôs fim ao ânimo dos proprietários da Casa, que decidiram acatar a vontade do Órgão, aposentando por tempo indeterminado a música ao vivo em suas imediações. 
O evento é triste por alguns motivos: 
Antes de mais nada, é uma opção a menos para o público apreciador de música ao vivo, que já vinha de várias cidades da região, ciente de que a cada final de semana encontraria sempre alguma banda fazendo música ali (um espaço muito democrático, que comportava vários estilos musicais). 
Por outro lado, algumas bandas e músicos - que eram praticamente residentes do cast do Original - acabaram perdendo boa parte de seus ganhos mensais, visto que o Bar procurava pagar sempre um cachê compatível com a qualidade dos profissionais e, como os locais onde a música ao vivo minguam a cada mês, a via da música profissional da cidade perde agora um de seus principais postos de trabalho. 
A situação fica cada vez mais grave na cidade, seja para os empresários do ramo, que vêem seus ganhos diminuir, ocasionando em demissões de garçons, ajudantes de cozinha, seguranças etc., seja para os profissionais da arte musical, que perdem mais um palco remunerado. 
O resultado disto todos já sabem, embora ainda haja pouca adesão na hora de abraçar a causa dessa luta: crise sobre crise e, pra alguns, caos e a obrigação de se moldar a uma situação persecutória e aparentemente desproporcional. 
O caso da Lei do Silêncio, agregado a uma questão legal que está calcada sobre a ideia de que a música ao vivo, quando executada em índices acima de 55 decibéis, causa danos à saúde das pessoas que frequentam os locais onde ela é executada, parece uma grande balela. Talvez eu esteja enganado, mas até o presente momento, nunca soube de alguém que apresentasse sequelas causadas pela música ao vivo. Qual a razão, portanto, para tamanha rigidez no cumprimento dessa regra fundamentada em quesitos técnicos inadequados à realidade das cidades brasileiras, incluindo São Sebastião do Paraíso, onde os sons do trânsito, das pessoas na rua e até de uma conversa ao celular ultrapassam os 55 dbs? 
Sinto-me pessoalmente atingido como músico profissional, já que tocava no bar pelo menos uma vez por mês, o que representa pra minha vida pessoal uma perda de cerca de 10% de ganhos com a música. Tudo em nome de quê? Da saúde pública? Da paz pública? Quem é esse público que, representado pela Promotoria de Justiça local agora quer me impedir de trabalhar em minha cidade? Não só eu, mas dezenas de colegas daqui e das cidades da região estamos sendo cruelmente atacados em nossos bolsos, além de ser tratados como infratores, em virtude do volume de nossas canções. Tudo isso parece tão desproporcional, tão além da linha do bom senso que mal consigo entender. 
Gostaria muito que o promotor responsável pela aplicação dessas sanções aos bares e restaurantes que tocamos aqui na cidade viesse a público de alguma forma, a fim de explicar pra gente o porquê disso tudo, pois eu realmente não consigo compreender".

Rafael Reparador 
Músico e Jornalista

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