Por Fernando Brito
A Folha diz hoje que os fundos de investimento – leia-se grandes grupos estrangeiros e nacionais, sobretudo bancos têm 25 bilhões de dólares – ou R$ 100 bilhões de reais – para comprar empresas em países emergentes, aproveitando a crise.
E que o Brasil é um deles onde os “principais alvos são empresas de energia, concessões na área de estradas, aeroportos e saneamento pertencentes a grupos envolvidos na Operação Lava Jato”.
É obvio que, graças ao Dr. Sérgio Moro tratar dos crimes cometidos não como eventos a serem punidos e ressarcidos, mas como uma cruzada de demolição destes conglomerados empresariais, as bocarras se abriram para engolir as empresas em um dos poucos setores onde o capital nacional ainda fazia frente ao estrangeiro.
“O Brasil tem boas empresas, o mercado interno é grande, e está barato”, diz Flávio Valadão, diretor da área de fusões e aquisições do Santander.
“Hoje é possível comprar uma empresa de R$ 1 bilhão com US$ 250 milhões. Não dava para fazer isso no primeiro semestre do ano passado”, diz à Folha Marco Gonçalves, dirigente do honestíssimo banco BTG Pactual, ele próprio em processo de “depenação” depois da descoberta das falcatruas de seu controlador (ou não, porque desde o Amador Aguiar eu ponho pouquíssima fé nesta história de bancário que vira banqueiro), André Esteves.
Nestes negócios privados, como todos sabem, ninguém leva dinheiro. Negociam-se bilhões com um ascetismo daquelas imagens que assistem, plácidas, o que se passa nos bordéis. São todos santos, puros, honestos como um frade capuchinho.
Com serenidade e responsabilidade, os milhões de reais surrupiados pelos “ladrões de carreira” da Petrobras estariam sendo recuperados talvez até com mais eficiência. Mas, em lugar disso, estamos vendo se esvaírem – no santo e puro “altar” do “Deus Mercado” bilhões de reais de patrimônio empresarial brasileiro.
Em lugar de gravar o patrimônio pessoal dos empreiteiros, destrói-se o das empresas, que têm (ou tinham) poder para investir, empregar e realizar.
Os acordos de leniência, que os procuradores da Lava Jato se esforçam – amplificados pela mídia – em barrar, seriam isso: a empresa paga pelo que fez, em dinheiro; os empresários pagarão – ou não, segundo seu julgamento – com sua liberdade e seus bens.
“Este parece ser um momento único na história, pela quantidade de bons ativos de empresas brasileiras que podem ser colocados à venda”
A frase, do diretor gerente do banco Morgan Stanley, Alessandro Zema, seria traduzida pela minha avó como “meu filho, estão vendendo tudo na bacia das almas”.
A simplória D. Innocência Barbosa, com seu quinto ano primário de Conservatória, uma das vilas mortas do café no Vale do Paraíba, resumia o que o letrado professor de Economia da Unicamp da Unicamp, Fernando Nogueira da Costa define com erudição: “Na bacia das almas” é expressão que se usa para designar a situação de alguém que está passando grande dificuldade e tem de vender algo o mais rapidamente possível, consequentemente, por um preço bem abaixo do que se obteria em circunstâncias normais. A expressão provém dos preparativos para o sacramento da Extrema Unção, quando a bacia em que se colocavam os óleos, unguentos e paramentos do sacerdote ficavam ao lado do moribundo.
O Dr. Sérgio Moro acha, talvez, que isso “não vem ao caso”.
Via Tijolaço
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