A sociedade tem hoje acesso a todo tipo de informação via redes sociais, podendo cruzar dados e visões diferentes sobre um assunto, não fica mais fácil visualizar quando o jornal beneficia algum lado político, ou o próprio político?
- O acesso está disponível a todos, sim, no entanto, a visualização do que está sendo disponibilizado sempre é feita sob o olhar do preconceito. Ou seja, a mentalidade do internauta/cidadão já está formatada de acordo com sua linha de pensamento, o que gera uma predisposição a aceitar e acatar o que se assemelha à ideia já formada e a rechaçar o que se parece com a ideia do adversário ideológico. Fruto de uma mentalidade maniqueísta que prejudica o debate e a reflexão filosófico/política, que deveria ser livre, condizente com os fatos expostos e não “de-limitada” em predileções partidárias e ideológicas. A mim parece que tal dificuldade de enxergar os fatos como são apresentados e a evidente predileção por algum lado - por mais ilógico que possa parecer - tem relação com algum fenômeno psicológico ligado ao pertencimento de grupo, processos cognitivos que desencadeiam ideias disfuncionais, equivocadas ou exageradas acerca de sua própria linha de pensamento e da oposta. Ou seja, os fatos estão lá, porém, os “óculos” do indivíduo influenciam sua leitura e reflexão acerca desses mesmos fatos.
Você, como jornalista, acha mais plural as informações nas redes sociais?
- As redes sociais são espécies de bares, praças, pontos de encontros e debates virtuais, com o benefício (ou não) de certo anonimato, onde a franqueza e a coragem para a exposição dos fatos ganham força. Sem dúvida, o acesso as redes sociais virtuais aumentou de forma exponencial o acesso a todas as manifestações e lados da Informação.
Quais os efeitos das noticias politicas nas redes sociais nos indivíduos?
- Um dos fenômenos interessantes sobre as notícias políticas na Rede é a possibilidade da participação coletiva na construção e no compartilhamento de fatos e ideias. As ferramentas de comentar e de compartilhar, além dos blogs e videologs dão voz a pessoas comuns, jornalistas e pensadores independentes, abrindo possibilidades enormes na construção da informação que se produz através dos fatos. Isto pode proporcionar outro fenômeno ligado a veracidade questionável das fontes, tendo em vista o descompromisso ético de muitos veículos virtuais com as notícias em si, seja por motivos ideológicos, ou simplesmente por humor (fatos que muitos internautas não conseguem diferenciar, ao que parece). Em suma, do ponto de vista do indivíduo, continua valendo sua educação e capacidade de interpretação clara sobre o que lê, além do respeito às diferenças – a coexistência, em lugar da barbárie - sob pena de continuarmos sendo surpreendidos com as inúmeras cenas de intolerância e agressões baseadas sobre fundamentalismos, em quadros que beiram a sociopatia, dada a selvageria que acomete internautas em seus acalorados debates.
Rafael Cardoso
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