Ele foi esquecido por um bom tempo, mas, depois de duas décadas de abandono, ressurgiu das cinzas e cativou novos amantes.
LP, bolachão, vinil! Por pelo menos duas décadas, esses termos tão utilizados entre os aficionados pela música, foram simplesmente descartados de seu vernáculo aqui no Brasil e no mundo. Após esse período relegado às caixas de papelão em algum canto na garagem, os discos voltaram com força ao mercado e, num mundo cada vez mais digital, vêm mostrando ser capazes de impulsionar novamente a venda, a troca e os reparos de aparelhos toca-discos e de agulhas.
Hoje, já é possível ver nas livrarias e lojas especializadas, o vinil convivendo lado a lado com os CDs, ganhando, surpreendentemente, cada vez mais espaço.
Em São Paulo, já existe uma galeria, a Nova Barão, que possui um andar inteiro dedicado ao comércio de itens relacionados aos LP´s, sendo já conhecida entre os apreciadores como “a galeria do vinil”. Ali, várias lojas disponibilizam milhares de discos de vinil, entre novos e usados, alguns bem raros e de preço elevado.
Em valores, o mercado dos discos de vinil vêm gozando de um crescimento vertiginoso. De 2011 para 2012 as vendas de LP´s cresceram 17%, alcançando 4,6 milhões de unidades somente nos Estados Unidos. No mesmo período, a venda de CD´s caiu 13%! Se levar em consideração a diferença estrondosa de preços, o crescimento se torna ainda mais impressionante, pois enquanto custa cerca de R$24 baixar um álbum através do iTunes, um LP do mesmo artista custa R$70, ou seja, três vezes.
Em São Sebastião do Paraíso existe um grande número de pessoas que devotam um espaço especial de suas vidas à paixão pelos discos de vinil. Dois exemplos bem interessantes são os dos empresários Luiz de Souza e Márcio Prietto. Além da paixão pela música e pelos discos de vinil que ambos têm, eles também são proprietários de bares na cidade.
Seu Luiz, como é conhecido de todos em Paraíso, já foi dono de um dos mais badalados restaurantes da cidade, o Cairo, que ficava em cima do antigo Cinema, onde hoje é o Magazine Luiza. Saudoso, ele conta que naquele tempo não havia calçadão na praça e que na época do carnaval, o desfile passava bem em frente ao seu estabelecimento, que ficava lotado de gente, na maioria casais.
Daquele tempo do restaurante que, segundo ele, chegava a vender 200 Cuba Libres por noite, seu Luiz guarda ainda alguns resquícios de diversos LP´s que ele tocava para seus clientes. Desde Julio Iglesias, passando por Creedence Clearwater (discos que ainda são mantidos com ele até hoje em seu bar), ele diz que a música que fazia mais sucesso era Torneró, de I Santo Califórnia. “O restaurante parava quando tocava essa música no toca-discos”, relembra com muita saudade.
Seu Luiz diz que chegou a ter mais de 300 discos, mas que deu alguns, restando boa parte ainda em seu bar, ali na Placidino Brigagão, quase esquina com a Soares Neto, onde todos os dias seu velho toca discos da marca Philips ainda pode ser visto e ‘ouvido’ em ação, tocando música de boa qualidade, com aquele agradável ruído de agulha no vinil.
Em décadas de distância na idade, mas unido na paixão pelo vinil, Márcio, proprietário do Único Lounge Bar, é apreciador inveterado de discos de vinil. O Único, que possui em um de seus ambientes uma exposição com LP´s de alguns dos maiores nomes da música mundial, é só um aperitivo de sua grande coleção.
Com uma grande coleção de discos em sua casa, o jovem empresário gosta de recepcionar os amigos num ambiente especial para se ouvir boa música. Na sala, o toca-discos e o móvel com boa parte de sua coleção são os protagonistas de grandes momentos entre amigos.
Questionado sobre as diferenças entre o vinil e o CD, ele diz que tudo está no “ritual”. “Não tem preço pegar um LP na mão e ficar ouvindo e olhando pra capa dele”.
De fato, para os apreciadores de discos, as coisas são totalmente rituais e parecem seguir a seqüência de um degustador de vinhos. Tudo começa no visual, na capa, contra-capa, o encarte e as informações contidas nele. Até que chega a etapa olfativa, pois o disco tem um cheiro muito peculiar e é só a partir daí que se toma o disco, com todo aquele cuidado, “nas pontas dos dedos”, girando levemente, lado A ou lado B; deposita-o no prato do toca discos (uma espécie de altar particular da música). Com o dedo indicador, braço e agulha são direcionados ao local de início do disco e daí, sim, é só degustar, ou melhor, ouvir o som mais fiel de sua banda favorita.
Talvez o som do CD seja mesmo superior, mas a diferença entre LP e CD está na apreciação, na degustação!
Rafael Reparador
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